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CRIANÇAS SEM ESPERANÇA 
por Almir Pascale Cardoso - Cronista, formado em administração de empresas. - almir.pascale@hotmail.com
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FOTO MERAMENTE ILUSTRATIVA

"Crianças convivendo sem a presença de adultos que as orientem, vivendo em um mundo de drogas, assalto, violência, fome... crianças sem sonhos, crianças sem esperança...
Almir Pascale Cardoso

    Morei por 03 anos no centro de S. Paulo, e presenciei diariamente fatos do dia-a-dia de inúmeras crianças. Ora alguns pedindo esmolas, ora em grupo assaltando, arrancando antenas de automóveis nos semáforos para fazerem cachimbos de crack, caminhando tranqüilamente enquanto cheiravam cola em saquinhos plásticos...

Às vezes, circulando pelas ruas, presenciava crianças ainda sob o efeito das drogas, dormindo no chão, sem um cobertor, papelão ou qualquer outra coisa, literalmente no chão. Isto algumas vezes às 10h da manhã, debaixo de um sol escaldante. Algumas vezes vi um senhor de terno, aparentando mais de 60 anos, tentando acordar as crianças e incentivando-as a se levantarem. Como não tinha êxito, colocava a mão no bolso, pegava uma cédula de R$ 1,00, e dizia que daria o dinheiro para quem se levantasse. Algumas vezes conseguia...

Algumas crianças aparentavam ter no máximo 08 anos, via-se meninas grávidas, outras aparentando desnutrição e até doenças...

Ao que dava para perceber, estas crianças não estavam acompanhadas de adultos, pois dificilmente via algum próximo à elas, e mais, elas preferiam pedir esmolas à roubar, até porque, mesmo em grupo, muitas vezes estavam em desvantagem devido ao tamanho e de, não maioria das vezes não portarem armas. Via algumas vezes, já à noite, alguns indo até um mercado, não para roubar, mas com os trocados que conseguiram durante o dia, comprar alguns pacotes de macarrão instantâneo. Os quais colocavam em latinhas com água e cozinhavam em pequenas e improvisadas fogueiras.

Crianças convivendo sem a presença de adultos que as orientem, vivendo em um mundo de drogas, assalto, violência, fome... crianças sem sonhos, crianças sem esperança...

Há alguns dias atrás, fui a trabalho para o centro de São Paulo, e pude verificar que nada mudou, crianças dormindo no chão, outras sentadas na calçada cheirando cola, uma menina de no máximo 12 anos com uma barriga imensa... aparentando estar prestes à dar a luz à outra criança. Uma criança dando a luz à outra...

Perguntei a mim mesmo... estas crianças tem o direito e a capacidade de decidirem o que é melhor para elas? O correto não seria, após identificarmos que não haja a possibilidade de retornarem às suas famílias (se é que possuem), de encaminharmos para um local especializado? Algo totalmente diferente de tudo que temos hoje, um internato (que de início não teria a opção de liberdade), um local que recuperasse fisicamente estas crianças, que lhes educassem, que lhes preparassem para um futuro melhor, ensinassem um oficio, e principalmente, um acompanhamento psicológico de forma individualizada, com tratamentos visando recuperar o amor próprio, a dignidade, o respeito para com seus semelhantes e esperança de dias melhores. Seria diferente, porque seria uma espécie de mutirão para salvar estas crianças. Um mutirão envolvendo os órgãos governamentais, iniciativa privada, igrejas, mídia, estudantes e voluntários diversos. O local obrigatoriamente deveria ser agradável, ao ponto, das crianças gostarem de ficar lá, de não sentirem saudade das ruas... Aos poucos, conforme a evolução de cada um, voltariam a ter uma liberdade assistida, mas obrigatoriamente voltando todas as noites para o local. Quando completassem 18 anos, o governo e iniciativa privada se encarregariam de lhes arrumar emprego (pois estariam preparados para exercerem diversas atividades) e de lhes fornecer abrigo e alimentação até que tivessem condições de “ andarem com suas próprias pernas “. É apenas uma idéia, assim como devem existir muitas outras na cabeça de várias pessoas que caminham pelo centro de São Paulo, ou mesmo em outros bairros, outras cidades e outros estados. Mas a idéia precisa sair de nossas cabeças e se transformarem em ações. Caso contrário, continuaremos a ter crianças sem sonho... crianças sem esperança... e crianças com um provável futuro que já imaginamos qual será... 

Autor:  Almir Pascale Cardoso - Cronista, formado em administração de empresas. - almir.pascale@hotmail.com

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