ENTREVISTA COM A ESCRITORA FLÁVIA MUNIZ.

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista a escritora Flávia Muniz.
 (05/07/09)

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Flávia Muniz - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de Flávia Muniz para o meio literário?

Flávia Muniz: Penso que fui despertada para as histórias muito tempo antes de elas se tornarem algo necessário em minha vida. Desde criança gosto de ouvir os relatos das pessoas. Fui educada em uma família que gosta de conversar e contar o que sabe, presenciou ou ouviu dizer. Passava férias na fazenda das tias e cidades do interior de SP – o que foi um presente dos céus! – e pude explorar a natureza, brincar muito e conviver com gente simples que se reunia à noite pra contar causos e historias de assombração. Havia um clima muito propício ao desenvolvimento da imaginação e da criatividade, no inverno e diante do fogo da lareira, no entardecer no campo, no silêncio do mato, em noites estreladas, nas chuvas fortes... Tudo foi experimentado e vivido com muita intensidade para uma criaturinha impressionável como eu.
Depois, com a vida profissional desabrochando, percebi na sala de aula que sentia prazer imenso em reviver esses momentos fantásticos da infância partilhando histórias com meus alunos, levando-os à biblioteca, fazendo-os ver além, dividindo com eles as emoções da leitura. Eu me divertia muito dando aulas. Sempre tenho saudades da escola. Sou pelo convívio escolar... e olhe que eu também briguei por lá. Manter a criança intacta, em si, é tudo de bom.
Com a maturidade, descobri outros motivos para escrever, sabe, uma busca interna, a luta por uma voz, uma necessidade de expressão, de trazer à tona coisas da alma. Percebi que não é tarefa fácil, é apenas deliciosa, uma responsabilidade imensa diante do outro que nos lê. Talvez, dada à minha formação em Educação, ou por ter consciência do valor das palavras como premissas para a ação, ou do modo como elas podem afetar a formação das mentes, tenho uma tendência a supervalorizar o efeito delas. Isso me leva a ser cuidadosa ao escolhê-las. Não me limitar, mas me superar ao fazê-lo, só com mais cuidado.

Ademir Pascale: Você tem uma estimativa de quantos exemplares já foram vendidos de todas as suas obras até hoje?

Flávia Muniz: Quando completei 10 anos de trabalho literário fiz um coquetel, chamei os amigos, editores e artistas e comemorei meu primeiro milhão de exemplares vendidos numa festa bem bacana.
Em comemoração aos 20 anos, já havia ultrapassado a marca de 3 milhões... e isso foi em 2004! É preciso ter um controle efetivo sobre as vendas, mas dependemos muito do aparato administrativo e sistêmico das editoras, suas planilhas, relatórios, da atuação dos divulgadores, enfim, do bom relacionamento que mantemos com as várias empresas com as quais mantemos contratos.
Sim, tenho uma estimativa da venda anual de meus livros. Acompanho direitinho. Tudo vai bem.

Ademir Pascale: Com muitas obras publicadas, alguma em especial lhe chamou a atenção? Caso sim, por quê?

Flávia Muniz: Toda a obra que escrevo é de certo modo especial por um motivo ou por outro. Algumas delas me deixaram muito feliz porque atingi um índice de releitura bastante alto, ou porque foram elogiadas por gente competente, ou porque recebi indicações de qualidade ou foram premiadas (tenho um APCA de Melhor Livro Juvenil, duas indicações ao Jabuti e dois livros traduzidos), ou porque permanecem sendo lidas e adotadas, ou porque simplesmente gosto delas e os leitores também. Fazem parte desta “turma de bonitos”: Os Noturnos, Manual dos namorados, Viajantes do infinito, Uma sombra em ação, Rita, não grita!, Fantasma só faz buu!, Brincadeira de saci, entre outros.

Ademir Pascale: Você já publicou várias obras infanto-juvenis, mas qual gênero mais lhe agrada?

Flávia Muniz: Eu gosto é de contar histórias. Se a ideia pinta de um jeito sonoro, brincalhão, lá vou eu rabiscando umas quadrinhas; se me pega na ação, procuro narrar uma aventura, depende. Sonho muito com os temas, passagens não resolvidas da história, digo sempre que “os anjos me acordam e me mandam ir trabalhar”. O gênero que mais admiro é o suspense, o thriller, que julgo o mais difícil de edificar. Não basta juntar sangue, um palavrão, uma criatura esquisita e um cadáver para se produzir um suspense de qualidade. A construção do suspense é tarefa árdua, de sensibilidade, e necessita muitos ajustes finos. Esse é o trabalho que me fascina. Estudo roteiros de cinema há um tempão (sou cinéfila!), e recentemente acabei a primeira fase de um curso sobre linguagem do audiovisual na PUC-SP. Estudar nunca me cansa. O talento é uma força motriz que leva você pra ação, mas necessita ter direcionamento, estar ancorado em boas leituras, na humildade do trabalho constante. Precisamos ter “ouvidos” para sacar o modo como nosso texto vem sendo recebido. Nem tudo que o leitor diz é suficiente, é abrangente, mas tudo o que ele diz é importante.

Ademir Pascale: Além de escritora você também é professora? Como você consegue conciliar o trabalho de lecionar com a escrita literária?

Flávia Muniz: Professores trabalham junto à matéria prima. Crianças são criaturas especiais, movidas à magia, sensíveis e sinceras, um prato cheio para um escritor atento. Com elas, ficamos mais ajustados em imaginação, em ritmo, em efeitos especiais, em humor, em clima, em vocabulário, conhecemos suas moralidades e espertezas. Elas são ótimas, são exemplos puros.
Atualmente convivo com crianças e jovens na escola de meu filho para trocar ideias, e em encontros autorais ministrados pelos colégios.
Mas daria para combinar os trabalhos perfeitamente, como antes. Estou ensaiando uma volta “ao palco” há tempos.

Ademir Pascale: Atualmente trabalha em algum projeto literário? Se sim, qual?

Flávia Muniz: Sim! Muitos ao mesmo tempo! Tenho estabelecido parcerias em escrita e isso tem sido muito interessante. Criei um livro com a Stella Carr (escritora fantástica, já falecida), e a Lais Carr sobre bruxas, chama-se Sallen 777, da Larousse. Tenho um romance em elaboração com o Silvio Ferreira Leite, escritor e poeta. Há dois trabalhos com o Kizzy Ysatis para daqui a pouco. Não costumo antecipar os fatos na imprensa porque mantenho sigilo do que faço em respeito ao processo de criação. Gosto de surpresas...
Tenho uns projetos infantis com o pessoal da Abril, onde atuei por quase 15 anos. Há projetos in pause no tempo cronológico, mas totalmente on , em plena execução no plano das ideias. E há 3 encomendas de editoras para o ano que vem, aliás, já estou bemmm atrasada. Sou de lua, apesar do signo ser de Terra e Água. Vou fazendo o que me chama.
Recentemente lancei o conto Carpe Diem, (org. Luiz Roberto Guedes) na coletânea O Livro Vermelho dos Vampiros, e em breve lançarei Irresistível, na coletânea Território V, do Kizzy.

Ademir Pascale: Existem projetos em pauta?

Flávia Muniz: Este ano também farei meu site oficial, blog etc e tal, para manter contato com os leitores na web. Nada muito over, apenas presente, divertido, assustador, elegante. Tem a ver com tudo que vai rolar nos próximos capítulos.

Ademir Pascale: Quais dicas daria para os jovens escritores que desejam ingressar no mercado literário?

Flávia Muniz: Estudem. Leiam. Tomem banho de livraria, de biblioteca, nos sebos. Estejam presentes nos eventos literários, nas feiras internacionais de livros, nos lançamentos, nos cursos, nas palestras das casas culturais espalhadas por aí. Troquem ideias. Conheçam os clássicos. Aprendam com quem já fez muito antes!! Há um universo para rastrear. Tudo já foi escrito, de algum modo.
Não fiquem satisfeitos com o texto que produzirem logo de cara. Sejam exigentes. O trabalho de escrita e reescrita é como a extração numa mina em busca de ouro, geralmente precisa ser minucioso e lento para ter bom resultado. E o tempo de construção do texto nem sempre condiz com o tempo cronológico. Esse, é um tempo mais cerebral, emocional. É como usar um GPS na própria alma e isso não se faz numa sentada, de modo displicente, assim como não se conhece um ser humano sem a devida convivência. Estou cada dia mais convencida de que não se produz qualidade na pressa da vida louca.

Perguntas Rápidas:

Um livro: Todo homem é imortal, Simone de Beauvoir (entre tantos que amo!)
Autores daqui: Monteiro Lobato, Machado de Assis, Ana Maria Machado, Lygia Fagundes Telles, Ligia Bojunga.
Autores de lá: S. King (li quase tudo!), Anne Rice, Shakespeare, Grimm, Andersen.
Atores: De Niro, Chaplin, Al Pacino.
Atriz: Meryl Streep.
Um filme: (só um? Impossível!) Asas do desejo, A hora do lobo, (de Bergman), Luzes da cidade, Nosferatu, Drácula, by Coppola, De volta pro futuro 1, O Expresso da meia-noite, O franco-atirador, O pianista, Menina de ouro, Os dois filhos de Francisco.
Um desejo: Veneza para sempre.

Ademir Pascale: Gostaria de encerrar com algum comentário?

Flávia Muniz: Cada artista tem um brilho, uma expressão própria e determinado tempo para acontecer... Quem sabe até permanecer além de seu tempo. O importante é deixar rastros, como migalhas de pão pela estrada afora, como convite aos leitores para trilhar o misterioso caminho da floresta. Resta saber onde exatamente você deseja levá-los...
Agradeço a palavra e envio um abraço a todos os leitores.

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Viajantes do Infinito -
Flávia Muniz

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistada: Flávia Muniz.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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