ENTREVISTA COM O CONSULTOR LITERÁRIO JAMES MCSILL

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o consultor literário internacional James McSill.
 (03/10/09)

CONHEÇA O LIVRO DRACULEA: O LIVRO SECRETO DOS VAMPIROS. CLIQUE AQUI


 
James McSill - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Primeiramente, agradeço por ceder a entrevista. Para iniciarmos, gostaria de saber como foi o início da carreira de James McSill como consultor literário internacional?

James McSill: É um prazer dar uma entrevista. Um “coach literário e afins”, como eu, dando entrevista, é uma coisa nova. Se “googlar” ENTREVISTA COM COACH LITERÁRIO é capaz de não aparecer ninguém! Eu mesmo, só resolvi aparecer, por causa do Brasil – e isso foi em maio deste ano, depois de décadas de estrada rodada. Mas é assim mesmo: “coaches”, “personal trainers” (e isso vale para psiquiatra ou ginecologista/urologista. Para celebridade, pior ainda), entrevistas nossas sempre deixam os clientes nervosos. Eu entendo e aceito. Quando me pedem referências, por exemplo, eu escrevo para alguém para quem trabalhei, e pergunto se posso passar o e-mail ou o telefone de quem me pediu a referência.
No início de carreira era muito, muitíssimo pior. No meu caso: eu não acordei um dia e disse: “vou trabalhar com autores auxiliando-os no processo da escrita”. Pelo que me resta das memórias daqueles dias, foi assim diferente. Eu acordei um dia e disse: “oh, mygod, gente diferente fala diferente”. Eu devia ter uns quatro aninhos. Eu havia sido criado em contato com pessoas que falavam português, brasileiro e continental, inglês, espanhol e com algum francês espremido no meio. Só que, para não me estender, eles falavam as suas respectivas línguas e euzinho, com o dom que Deus me deu (brincadeirinha), absorvera e falava TODAS as deles. E cresci bi (língue) ou tri – ou poli, pois quebrava o galho em francês.
Fui fazer – surpresa! – LETRAS. E já, na época (1974 ???), lia de tudo em todas as línguas que sabia. Gostava de ver os idiomas sendo usados para efeito artístico. Cheguei a (segredo!) escrever para o teatro, anos 70; TV, nos anos 80 (um programa infantil, tipo Vila Sésamo. Eu escrevia e “marionetava”); nos anos 90 escrevi comerciais. Gostaria de colocar um deles no YouTube quando descobrir como se faz.
Ops! Já estamos nos anos 90? Bom, vou andar pra trás uns cinco anos. Eu lecionava inglês, traduzia, editava – vivia na Escócia e no Brasil. Tinha voltado a estudar (business) e procurava uma nova metodologia para ensinar e aprender línguas. Encontrei: chamava-se TASK-BASED LEARNING (TBL) – está tudo, aliás, na Internet. E foi através do TBL que conheci autores que escreviam livros dentro deste sistema e gente que escrevia historinhas ou então, adaptava livros usando um programa de computador produzindo CONCORDANCES (listagem de palavras mais usadas) para vender a quem tinha um vocabulário de inglês limitado. Isto é, utilizando 300 palavras, se bem editado, dava para “traduzir” até William Shakespeare. Em parceria, para ganhar umas librinhas a mais, ajudei um autor ou outro. A Jane e o Dave Willis, entre eles. Os dois, autores de mais livros do que consigo me lembrar, apresentaram-me para Gweneth Fox, que era ninguém menos que a editora-chefe da Collins Co-Build, subsidiária da Harper Collins.
Acabei me envolvendo tanto com o trabalho, com a produção e edição dos livros – pois eles precisavam de pessoas que falassem várias línguas e operassem em diversas culturas – que empresas começaram a me contratar para consultoria na área. Quando me dei conta, eu virara “Mr Collins Co-Build” e, sem falsa modéstia, punham-me logo abaixo da Jane e do Dave como um expert na coisa.
Como um expert (ou a percepção de que eu seria um expert) mudou tudo! A TBL me fez viajar muito durante bastante tempo. Daí, suponho, vem essa coisa do “internacional”.
Na virada do milênio o tal TBL caiu de moda, e a HarperCollins fez um “downsizing”, o que eu havia construído a duras penas, e a reputação como Mr Co-Build, inclusive, foi pro brejo. Só que, já naquela época, eu andava dando os meus tirinhos em pequenas editoras como “editor de aquisição”. As pessoas terceirizavam tudo na Inglaterra e nos EUA, e me tornei Mr Editor de Aquisição Terceirizado.
Então, para ter autores me contatando para saber como fariam para que o seu manuscrito desse um pulinho para o topo da pilha, foi um pulo. Era uma coisa ultra-secreta, meio James Bond, às vezes, e a lutávamos com “armas secretas” contra o “poderoso inimigo” da rejeição.
Agora o mistério: por que o jeitinho que eu dava no texto, em muitos casos, não apenas evitava a rejeição, mas fazia um livro vender mais? Até hoje procuro a resposta. Como atualmente está ficando cool dizer quem é o “coach”, o assessor, o ginecologista ou o cirurgião plástico, bastaria fazer uma entrevista com algumas de minhas “vítimas” para saber por que me pagavam para eu chibatar seus textos, dar conselhos sobre isso ou aquilo, ouvir suas mágoas, aplacar seu medos...
Para que essa resposta não vire um romance completo, termino dizendo que, nos países latinos, todo mundo gosta de “currículo”. Para quem estiver querendo o “currículo”, fiz meu mestrado em “preparação de textos e material para publicação” e a aclamada dissertação foi “ESCREVER PARA VENDER”. E fiz 1000 cursinhos que me ajudaram, e ajudam, a apertar a mão e sorrir, não meter o dedo no nariz se a entrevista for para a TV e a não dizer que o texto de alguém é uma..., aquela coisa. Mas ainda sou muito mal comportado no palco, dou palestra de pés descalços e não uso terno nem gravata.

Ademir Pascale: Fale mais sobre as suas palestras, onde acontecem, etc.

James McSill: Pois é, as minhas palestras... na época da Collins aconteciam quase todo dia, depois virei grilo falante de autor e pararam um pouco. Atualmente elas voltaram com muita força. Com esta incursão no Brasil, nem se fala! Os brasileiros, como os americanos, adoram dividir custos, “a palestra sai mais barato”. Onde acontecem? Locais? Tanto faz, honestamente, se não houver caco de vidro ou agulha contaminada no chão já vou palestrando. Países? Só este ano, estive na Espanha para uns “talks” privados, Brasil, Portugal e Irlanda. Haviam me convidado para um evento em Nova Iorque, mas depois me desconvidaram. Agora é no Brasil novamente, e logo que retornar, EUA de novo – mas desta vez não desconvidam, a organizadora é minha sócia!
Só que, vale salientar, uma palestra é a ponta do iceberg. 30% do meu trabalho são retiros – como um que vou realizar em Friburgo em novembro – e 60% do tempo cuido de autores como coach, assessor, consultor, etc.

Ademir Pascale: Na sua opinião, como cirurgião de textos, existem casos impossíveis de se consertar, sejam literários ou jornalísticos?

James McSill: Jornalístico não sei. É uma outra área. Entendo de romance, ficção, e quebro galho em auto-ajuda e em biografia romanceada. Mas se tem texto que não dá para ajeitar... hummmmm... Depende! Há gente com uma boa idéia na cabeça, um lápis na mão e sem capacidade alguma de escrever. Para estes eu recomendo um ghost-writer dos bons. O restante, suponho, a gente dá um jeito. Há casos cabeludíssimos, mas vão depender mais do orçamento do autor, do que do texto. Claro que uma coisa é dar uma passada de bisturi na obra, torná-la mais atraente. Uma outra é dar ao texto uma cara e um corpinho de Gisele Bündchen. Verdade seja dita, nunca se sabe. Se o texto tiver mensagem, tem sempre quem goste, que compre e o desfrute.

Ademir Pascale: Na sua opinião, como anda o mercado editorial brasileiro para os novos autores, se comparado aos dos outros países?

James McSill: No mundo inteiro o mercado está mudando muito depressa. As novas tecnologias, na minha opinião, pela primeira vez estão proporcionando ao autor excepcionalmente talentoso, a oportunidade de serem lidos fora do esquema de uma grande empresa editorial. Por outro lado, a tecnologia como print on demand está dando falsas esperanças a quem deveria fazer outra coisa que não fosse escrever histórias.
O mercado brasileiro está cheio de talentos. Cheio de editoras. Cheio de gente lendo – pelo menos, muito mais que nos anos 70 ou 80. Porém as barreiras ainda são muitas, para que o autor novo, e nem o tão novo atinja o mercado mundial. A principal, infelizmente, é o idioma. Uma tradução impecável é muito cara. Outro dia, conversava com uma autora cujo livro sairia (eu não traduzo, falávamos de tradutores amigos meus) por uns 14 mil dólares. Ela me disse que ia optar por uma “senhora” que morava em Miami e traduzia muito bem. OK. A “senhora” traduziu, ou o que ela imagina que seja uma tradução. O resultado, que custou à autora uns dois mil dólares, irá para o lixo. O complicado é que o texto não pode chegar no original, ao menos uma parte tem de estar traduzida. Sendo autor novo, as chances de uma grande editora anglo-americana investir numa tradução são virtualmente: nenhuma. Moral da história, se só puder pagar por tradução feita em Miami, ganha primeiro o mercado nacional e deixa o sonho de ser estrela mundial para mais tarde. É chato dizer isso, mas para vencer tem que cair na real.
Mas, para o autor novo, dentro do Brasil – e em Portugal, sem nos esquecermos de Angola! – nunca esteve tão fácil. Se o autor tiver um livro fora do comum, em um nicho bem definido, e se predispuser a meter o pé na estrada e vender, pode não viver disso, mas não tem prejuízo.
Hoje, por exemplo, eu lia o site de uma moça de Brasília (cujo nome não vou mencionar, mas ela vai estar comigo no Rio) em que explicava como se faz para escrever, publicar e vender sem precisar de grandes editoras. Cito um exemplo: o mercado evangélico é imenso! Em maio conheci um rapaz que dizia receber mensagens diretamente de Deus, ele vendia – e vende - horrores. Confesso, e que um raio não me parta, que Deus já poderia ter mandado as mensagens estruturadas! Mas pouco importa, se eu, por exemplo, vendesse 2500 livros ao mês eu iria viver de escrever. Ai, se eu soubesse jogar búzios! Um conhecido vendeu cinco mil exemplares e deve estar vendendo ainda!
O autor brasileiro – e estrangeiro – que não vende, é porque não achou o nicho. Hoje é tudo muito segmentado.

Ademir Pascale: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?

James McSill: Eu não sou autor, mas se fosse, iria achar o segmento, e aprender a escrever de uma forma mais contemporânea, para ter um apelo maior. E isso também vale para autor em qualquer fase da carreira.

Ademir Pascale: Na sua opinião, por que alguns livros fazem tanto sucesso? É o forte marketing, a qualidade literária excelente da obra, o carisma pessoal do escritor ou o conteúdo geral do livro, como gênero, título, autor, qualidade literária, editora, etc.?

James McSill: O segredo do sucesso daria uma série infindável de entrevistas! Recordo-me que em maio, passei dois dias na Livraria da Cultura conversando com autores sobre esses aspectos.
No entanto, para resumir a ópera, marketing, por si só, pouco adianta na maioria dos casos – excetuando-se a literatura para segmentos definidos da sociedade – o boca-a-boca é o que realmente vende. O marketing pode, inclusive, ter efeito oposto: “todo mundo fica sabendo da porcaria que NÃO vale a pena comprar”. Torra a obra e torra o autor. O pobre vivente vai ficar marcado para o resto da vida. Vi isso acontecer inúmeras vezes.
Nas reuniões editoriais, recebemos textos desses autores e nem lemos as primeiras linhas. Infelizmente é um mercado em que, se o fulano fez um alarido muito grande e errou o alvo, está f...rito! O que conta será sempre a qualidade da obra, claro. Se for ótima, pode vender pouco hoje, mas vai vender mais em outro dia. Ao menos, o autor não vai passar nenhuma vergonha!
Ah! Tu perguntaste do carisma também. Hoje em dia, carisma em conjunto com uma boa obra é o ideal. Se a obra for mais ou menos e o menos for compensado pelo carisma, vende bem. É o caso da literatura de nicho de que eu falava antes: a evangélica, a gay, a how-to, a de piadas. O carisma é o escritor que é do meio ou o que fala para o meio, o que o meio quer ouvir. Acho que isso responde o que me perguntaste sobre o conteúdo, este tem de ser adequado à audiência.
A editora pode importar por causa da distribuição, mas isso, a passos de cágado, está mudando. Tudo tem um peso, tudo depende. A indústria do entretenimento é muito dinâmica. Tudo o que eu possa dizer pode ser desdito, por mim mesmo!

Ademir Pascale: Por favor, cite um dos casos de sucesso que teve a sua assessoria.

James McSill: Depende da área em que presto uma assessoria. Gosto de pensar que, se faço um serviço de editor de aquisição, os textos que selecionei vão vender. Para falar a verdade, nunca me dou ao trabalho de ficar buscando títulos para verificar – até porque os editores mudam os títulos e as editoras, pelo menos as razoáveis, fazem edição de linha. Mas como sempre recebo trabalhos, imagino que aprovem as minhas escolhas. Se trabalho diretamente com autores, o caso é diferente. De novo, se algum dos meus autores quiser enviar um comentário para a tua coluna e assinar, eles poderiam explicar o nível de sucesso que obtêm comigo. Como disse, normalmente o meu trabalho é feito em sigilo e assim deve permanecer.
No entanto, posso falar de pelo menos dois autores amigos. Um é o Ruy Câmara, que escreveu Cantos de Outono e no momento, mais duas obras de peso a serem publicadas em breve. Represento o Ruy internacionalmente e o sucesso dele (eu sou apenas o humilde vassalo de um talento estrondoso) é inegável. Enquanto te respondo a esta entrevista, o meu telefone toca sem parar. Estamos publicando o Ruy nos EUA e Inglaterra numa super estratégia de mercado, que irá de meios eletrônicos a paperback e hardcover. O sucesso que considero meu, é quando autores deste calibre me pedem para editar uma coisinha ou outra, ou quando eu os ajudo a ter aquela sacada comercial. Quando trabalho com estes gênios, nem me passa pela telha que sou um “consultor de sucesso”. Longe de mim! A honra de poder contribuir já me basta. Mas não cabe a mim comentar sobre estas coisas, o Ruy é que teria de ser entrevistado.
E tenho a minha deusa do auto-desenvolvimento, que vende feito pão quente, e vai vender mais ainda com as novidades que vêm por aí: a Eliana Barbosa. Acidentalmente, um jornal de Minas publicou o fato de que faço uma adaptação de um romance da Eliana para o mercado internacional, e já está um frenesi antes mesmo de o texto estar pronto.
Mas o sucesso é dela. (Ela já vendou literalmente milhares de exemplares do livro no Brasil). O que posso considerar sucesso meu, é a confiança que pessoas tão especiais depositam no meu trabalho. Aqui na Inglaterra, estou com o Phil Davies que foi publicado com sucesso nesta “estação” (sucesso aqui dura pouco) e estou com uma autora americana que escreveu uma saga que se passa na Amazônia.
E, na área de “palestras”, a Mardeene Mitchell e eu abrimos o jogo: trabalhamos juntos. Está tudo no meu site: www.mcsill.com Ela é um sucesso – ver é crer – o meu sucesso é ela me agüentar no trabalho, e estamos contando os dias para visitarmos o Brasil juntos em 2010. A Mardeene está procurando brasileiros interessados em apoiá-la no primeiro roadshow internacional para autores brasileiros. Num roadshow, o pessoal vai mostrar a que veio. E pode acabar, aí sim, com uma editora pagando para ter o trabalho de brasileiros traduzido.
Agora, sucesso mesmo, é quando tenho aqueles que mal conseguiam estruturar um e-mail produzindo textos que, com um pouquinho de esforço, têm qualidade para atrair uma editora comercial. É quando o meu coração se aperta e se expande. Assim, eu sinto que vale a pena fazer o que faço.

Ademir Pascale: Como os interessados poderão saber mais sobre James McSill?

James McSill: Podem dar uma olhadela no meu site: www.mcsill.com, me enviar um e-mail, james@mcsill.com, me contratar por uma hora e ver se vale a pena pagar pelo meu trabalho. Se acharem que posso acrescentar, estou à disposição.

Perguntas Rápidas:

Um livro: Todos! Terminei hoje “The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society”. Bárbaro.
Um(a) autor(a): James Patterson, mas leio de tudo.
Um ator ou atriz: Rowan Atkinson (Mr Bean)
Um filme: E o vento levou
Um dia especial: todos os dias, vivo de momentos.
Um desejo: “Imagine all the people living as one”. Gosto de pensar que tenho os pés nos chão, mas sou hiper idealista.

Ademir Pascale: Mais uma vez agradeço pela entrevista. Desejo-lhe muito sucesso.

James McSill: Muito obrigado. Falar é comigo mesmo. Estou aí, quando precisar!
 

 

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado: James McSill.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

Indique esta entrevista para um amigo! Clique Aqui      

 


© Cranik - 2003/2009