ENTREVISTA COM O DESENHISTA
ANDERSON ALMEIDA
O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o desenhista Anderson Almeida.
 (27/10/10)

Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber quais foram as suas principais influências e o seu início nas ilustrações e HQs.

Anderson Almeida: Comecei sendo picado por uma aranha radiotiva, como acontece com quase qualquer quadrinista ou ilustrador. Depois de passar por anos de tratamentos quimioterápicos, descobri que não queria ser dentista, embora uma coisa não tivesse muito a ver com a outra. Mas, no dia que decidi não ser dentista, respondi a um anúncio nos jornais de um pequeno estúdio que fazia quadrinhos para Qualidade. Você sabe, aqueles HQs que as empresas compram na esperança de treinar seus funcionários para que eles não desperdicem papel higiênico, não percam dedos e virem presidentes e essas coisas. Foi lá que eu comecei, de fato, a fazer quadrinhos. Fazíamos de 4 a 6 publicações diferentes por mês, todas voltadas para a indústria. Lá também fizemos, com a falecida Brainstorm editora, do Eloyr Pachecco, A estranha turma do Zé do Caixão. Era uma aventura com um Zé do Caixão mirim que ganhou um Hqmix. Depois fui desligado desse estúdio e comecei a trabalhar como freelancer sob a alcunha de Mr.Guache.

Ademir Pascale: Como surgiu a ideia para a criação da HQ Zeladores (Devir) e quanto tempo demorou para concretizá-la?

Anderson Almeida: Em 2009 pensei que seria muito legal falar sobre folclore brasileiro com um tom de aventura e despretenção, colocar as lendas brasileiras em outras situações, mais contemporâneas, menos sérias e com um visual mais icônico. E como não havia ninguém fazendo isso eu pensei: "Por que não?!". E foi assim que tudo começou. Contei sobre o projeto para um amigo meu, Roberto Dávila, da Write, que me deu apoio para trabalhar em cima da idéia, os zeladores. Depois de um tempo, enviamos o projeto para o PROAC, edital da secretaria de estado da cultura para desenvolvimento e impressão de HQ. O projeto foi contemplado. Um grande amigo meu, Nathan Cornes, roteirista de uma série de animações da web chamada Cálico Eletrônico/Huerfanos Eletrônicos se ofereceu para ajudar a colocar ordem no universo gigantesco que eu havia iniciado e roteirizar as histórias. Todo o processo, da criação do universo, até a definição do roteiro e um estilo mais pop da arte (completamente digital, com as páginas todas vetorizadas), levou 10 meses de trabalho.

Ademir Pascale: Quando recebi o exemplar cortesia da Devir, logo notei o excelente resultado da luxuosa HQ. Como foi trabalhar com o roteirista Nathan Cornes junto a Devir?

Anderson Almeida: Eu adoro trabalhar com Nathan. Nós literalmente erguemos e destruimos o universo dos Zeladores umas 10 vezes antes de começar a roteirizar a coisa toda. Eu o conheço a bastante tempo e acho que seu roteiro conseguiu chegar no tom que eu imaginava para esse universo. Malandragem, um pouco de humor afrodecendente e uma ambientação de realismo fantástico com alguma aventura. Foi muito mais fácil que trabalhar com a Devir. rs

Ademir Pascale: “Não se trata de heróis uniformizados com roupas colantes e coloridas; no caso de Zeladores, o protagonista é um dos personagens mais carismáticos do folclore brasileiro: Zé Pilintra.” (Trecho da sinopse). Como está sendo a receptividade do público com uma obra que aborda heróis diferentes dos tradicionais?

Anderson Almeida: Os brasileiros estão acostumados com fantasias de carnaval, cuecas em cima da calça e alienígenas superpoderosos. Uma macumba servindo de "batsinal" não é de todo estranho Rsrsrsrs
Os heróis nascem de lugares inusitados e todos eles, principalmente nos quadrinhos, participam de uma jornada sem volta, rumo ao sacrifício pessoal em nome de um bem maior. Nesse sentido, Zé Pilintra, um boemio, malandro e visto por muitos como uma entidade maligna da umbanda de esquerda e catimbó, nos pareceu perfeito. Ele está muito mais próximo que um Super Cara, cujos superpoderes poderiam a muito tempo ter salvo seu universo fictício de qualquer mazela.

Zé Pilintra tem limites, fraquezas e vícios, como nós, humanos. Ele e seus companheiros, um bando de gente mais ou menos normal tem de se virar, no estilo jeitinho brasileiro, para salvar o dia. E acho que quem está lendo começa a sacar que não estamos empurrando uma megasaga de 456 capítulos de viagens cósmicas que não vão dar em lugar nenhum, também começam a relaxar porque a história, apesar do personagem ser mais próximo da nossa realidade, não está tentando fazer parte dela. É um outro lugar, com outras regras, como qualquer boa história fictícia, nossa única preocupação foi não levar as coisas a sério demais, afinal esse já é um país muito sério. As pessoas tem percebido isso, o que nos deixa bastante satisfeitos.

As críticas sobre a arte me deixaram bem empolgado também. O pessoal tem gostado bastante e identificado as referências do estilo que usamos muito facilmente. Então acredito que estamos no caminho certo, mas ainda há muito por fazer. Esse tipo de publicação deve ter continuidade para que um feedback real do público possa ser avaliado.

Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir a HQ Zeladores?

Anderson Almeida: A princípio, eles terão de comprar. No site da Devir e nas livrarias especializadas é certo de encontrar a publicação. Muitas delas aceitam pedidos de fora do estado de SP, então se você for de fora do estado e quiser um exemplar, essa seria minha dica nº 01.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Anderson Almeida: Essa é a minha dica nº 02. Por enquanto, tudo muito secreto e confidencial, como nossa existência até agora rs. Estamos projetando um site para abrigar os Zeladores e seu universo. Queremos continuar escrevendo suas histórias e é o que faremos. Você será um dos primeiros a saber quando esse bastardinho internético estiver online ;)

Ademir Pascale: Quais dicas daria para os jovens que desejam se aventurar no mundo das HQs como roteiristas ou ilustradores?

Anderson Almeida: A minha dica é: se você tiver quer fazer isso, faça...e continue. Não pare. Só com uma produção contínua podemos fomentar um mercado consumidor, desenvolver os profissionais necessários para o crescimento e expansão dessa mídia interna e externamente. Muitos artistas de valor vem contribuindo para a criação desse mercado, como os gêmeos Moon e Bá, Danilo Beiruth, Ivan Reis, Rodney Buchemi e coletivos como 4º mundo. Siga o exemplo desses caras e não pare nem que o próprio Satã esteja te ameaçando com uma escopeta do lado de sua prancheta.

Ademir Pascale: Como os interessados poderão saber mais sobre Anderson Almeida e os seus trabalhos?

Anderson Almeida: Pelo site, (www.mrguache.com.br) onde tem um amontoado de coisas que faço para publicidade. Pelo Blog, onde posto algumas imagens que não podem ser tratadas como jobs (mrguache.wordpress.com) e, em breve, através do endereço dos Zeladores na net, onde desejamos expandir o universo da HQ (www.zeladores.net em construção).

Perguntas Rápidas:

Um livro: Mochileiro das Galáxias (edições antigas até "adeus e obrigado por todos os peixes"). O Jogo de Ender. Lendo agora o Mestre e a Margarita.
Um(a) autor(a): Will Eisner. Kyle Barker. Alan Moore (até Top Ten), Kurt Busiek (Astro City). Bill Willingham.
Um ator ou atriz: Qualquer humano que busque sobreviver em nossa sociedade.
Um filme: Dr. Fantástico. Clube da Luta. Goonies. Where the Buffalo Roam. Naked Gun.
Um dia especial: começa com uma boa dose de café. Preto, de boa índole.
Um desejo: teletransporte. A promessa de um futuro que nunca chegou.

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Anderson Almeida: Não, não. Apenas gostaria de agradecer pelo seu tempo e por ter esperando que minhas idéias voltassem ao normal depois do ocorrido. Foi a primeira vez que eu fiz massagem cardíaca em alguém e o fato de não ter funcionado muito bem me deixou meio out por uns dias. Obrigado e espero que possamos tomar uns tragos em breve ;)

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Zeladores - Anderson Almeida e Nathan Cornes