ENTREVISTA COM O ESCRITOR ROCHETT TAVARES

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor Rochett Tavares.
 (28/07/11)

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Rochett Tavares - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de Rochett Tavares para o meio literário?

Rochett Tavares: Aos quatro anos, ganhei de um tio uma revista do homem-aranha (na época editada pela RGE). Algo me atraiu naquele universo, onde as personagens faziam sacrifícios pessoais em prol de um bem maior. A partir daí, fui apresentado ao Batman, Flash, Lanterna Verde e a todo esse mundo.

Com nove anos, conheci o que seria decisivo para meu gosto por literatura fantástica: a revista “A Espada Selvagem de Conan, o Bárbaro” (na época editada em “formatão” da Editora Abril) cuja aventura adaptava uma história escrita por Robert E. Howard (criador da personagem nos anos 30).

Deste ponto em diante, tornei-me consumidor da obra de Howard, viajando com o cimério através de reinos fantásticos, de aventuras nas quais o obscuro, o insólito espreitavam em cada lugar, prontos para surpreender o bárbaro. Um dos contos mais célebres que li foi “A torre do elefante”, onde Conan invade a residência de um mago das trevas (Yara) em busca de uma gema; “O coração do elefante” se não me engano; e enfrenta toda sorte de demônios até encontrar o homem-elefante (Yag Kosha) e descobrir que o tesouro é o coração deste ser (um alienígena extremamente longevo em cujo coração reside a chave para derrotar o mago que o aprisionara há milênios).

Anos depois, recebi uma coletânea de ficção editada em Portugal chamada “10ºFC” onde haviam narrativas de Ray Bradbury, e outros autores dos quais não me recordo agora (faz uns 23 anos que li aquele volume). Uma das mais marcantes foi “Arena”, que ganhou até uma adaptação em um episódio de “Star Trek” (a série clássica; aquela com o Capitão Kirk, Spock, Dr. Macoy). O argumento era o de que os seres humanos estavam em guerra com uma raça de alienígenas e o combate chegara num impasse; nenhum dos lados conseguiria derrotar o outro sem destruir a si mesmo (um exemplo crasso da “Vitória de Pyrro” – quando o que perdemos para conseguir um objetivo é, às vezes, muito maior do que o prêmio a ser recebido). Nesse momento, uma raça muito mais evoluída intercede e outorga/impõe uma solução aparentemente simples para o caso: um representante de cada espécie seria transportado a um planeta em seu estágio inicial de existência e, com o material à disposição, encontrar um modo de eliminar o adversário. O vencedor garantiria a sobrevivência de seu povo e o perdedor, bem, o destino é obvio (seriam removidos deste universo como se jamais houvessem existido)...

Mais adiante, tomei contato com o mestre Howard Philips Lovecraft (autor de “O chamado de Chthulhu”, “A cor que veio do espaço”, “Dagon”, “O estranho caso de Charles Dexter Ward”, “Nas montanhas da loucura”, dentre outros e, para minha felicidade, amigo e correspondente de Robert Howard), criador do gênero horror fantástico. Antes dele, não havia uma mitologia cósmica de seres; as coisas rondando nas trevas resumiam-se apenas a mitos ligados à este universo, como as criaturas presentes nas tragédias gregas (Odisséia, Hercules, Jasão e os Argonautas) ou os seres combatidos pelos deuses escandinavos (os gigantes de gelo governados por Ymir, os demônios de Muspelheim ou as legiões de Hella). Observando bem, vê-se uma preocupação com assuntos estritamente humanos, pois a cidade dourada (Asgard; a morada dos deuses nórdicos) estava presa à Midgard (Terra) por um arco-íris (isso mesmo) e o Olimpo (casa de Zeus e do panteão grego) identificado com a montanha de mesmo nome que é a formação mais elevada da Grécia e também o nome dado a uma montanha em Marte. Todos estão ligados ou tem origem neste mundo. O horror Lovecraftiano parte da existência de outras realidades onde o mal deseja invadir/retomar nosso universo.

Desde tempos primitivos, o animal humano tem a necessidade de exprimir-se através de narrativas que fogem ao comum, que fogem à sua realidade. Seja em reinos fantásticos onde deuses e deusas vivem em eterno combate contra as forças da escuridão, heróis desafiam a morte realizando tarefas impossíveis ou falando do desconhecido. Tudo isso para aliviar suas mentes de algo muito mais terrível que qualquer história ou monstro: o quotidiano.

Ademir Pascale: Afinal, Rochett Tavares é um pseudônimo, ou não?

Rochett Tavares: É uma história engraçada. Meu pai era da Marinha e, numa de suas viagens, viu esse nome em algum lugar. Anotou e resolveu que iria dá-lo a seu primeiro filho. Como sempre fui um cara de sorte, já viu (risos). Em pesquisas recentes (super Google) descobri que se tratava do sobrenome de uma família francesa que fugiu de sua terra natal para a Inglaterra no período de perseguição religiosa e política aos huguenotes. Péssima escolha, pois lá chegando não foram muito bem recebidos pelos anglicanos (a conhecida contribuição do bom Rei Henrique VIII para a história) e boa parte deles migrou para a América do Norte. Como minha família sempre me tratou pelo Rochett e como também não conheci ninguém que ostentasse esse nome peculiar por aqui, decidi apresentar-me com ele. Já o Tavares é um sobrenome que herdei por parte de mãe.

Ademir Pascale: Ainda este ano você relançará o livro Criaturas num evento junto com a editora Estronho. Comente sobre ele e o seu lançamento.

Rochett Tavares: O Criaturas será relançado junto com outras obras da Editora Estronho. Ele foi resultado da premiação obtida no I Edital Autor Cearense de 2010 da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, publicado e montado por aqui. Ainda não tive o prazer de ter alguma obra publicada por eles, mas participo com enorme satisfação da antologia “Le Monde Bizarre”. Nesse mesmo evento, meu novo livro, o Abismo (publicado por outra editora), será lançado. Devo ressaltar que os estronhos foram muito legais em ceder espaço para mim, pois meu trabalho ainda é desconhecido para muita gente.

Ademir Pascale: Você é o criador do projeto Livros Grátis. Como funciona?

Rochett Tavares: Foi um estalo que tive quando trocava umas idéias com o Alfer Medeiros acerca de um e-book que ele vai lançar chamado Green Death expandindo o universo criado por ele no Fúria Lupina. Daí, imaginei o seguinte: e se houvesse um espaço onde qualquer autor pudesse divulgar seu trabalho, sem custo e sem lucros, só pelo prazer de escrever e ser lido? Se houvesse um modo de rompermos barreiras e alcançarmos o leitor onde quer que ele esteja?

Conversando com o Alfer, concluímos que os e-readers, tablets, celulares espertos estão se tornando algo cada vez mais comum e distribuindo livros nesse formato, pouparíamos o leitor de carregar dezenas de volumes, daríamos a ele facilidade (e mobilidade) para ler textos interessantes a qualquer momento e lugar além de divulgar a LitFan nacional, que é o maior intuito desse projeto.

Nessa cruzada, surgiram autores que cederão histórias inéditas ao projeto na primeira coletânea intitulada “Os selvagens (cães) cadáveres de guerra” que é sobre zumbis na 2ª guerra mundial.

O mais interessante é que esse primeiro volume seria uma coisa autoral. Todavia, os amigos foram surgindo, perguntando se a coisa estava fechada... Então, pensei o seguinte: por que fazer algo solitário, se o objetivo é divulgar os autores nacionais? Então recebi o apoio de nomes como Celly Monteiro, Marcelo Claro, Erich Musashi, Renato Dieckson, Alec Silva e Renato Gondim criando narrativas instigantes (e pavorosas) sobre horrores ainda mais terríveis do que os já conhecidos nesse conflito.

Todo e qualquer autor nacional está convidado a participar. Lembrando apenas que é uma iniciativa sem custo e sem lucro. In suma: não rola grana! Quem, depois de ler este aviso, ainda estiver disposto, pode entrar em contato e vamos montar seu ebook para ser distribuído e lido!

Ademir Pascale: No dia 04/08/11 você ministrará uma palestra intitulada O Horror Sobrenatural na Literatura. Como os interessados em assistir a palestra deverão proceder?

Rochett Tavares: Quem estiver em Fortaleza-Ceará ou possuir disponibilidade para vir, basta apenas se dirigir à Livraria Cultura da Avenida Dom Luís 1010, no Shopping Varanda Mall. O evento, aberto ao público e gratuito, terá início às 19:00hs. Serão 90 minutos onde dissecaremos o horror na literatura; desde as primeiras manifestações na concepção de mitologias até a abrangência e influência dele em outras mídias (cinema, quadrinhos, RPG, etc.). Foi uma iniciativa muito legal a deles em abrir espaço para um gênero da literatura ainda tão marginalizado em nosso país. A propósito, na loja, encontrei uma coletânea organizada por você, a em homenagem ao extraordinário mestre Poe, além de outros títulos da LitFan nacional. Devo ressaltar também o apoio que recebi de vários sites e blogs, divulgando o evento sem cobrar nada por isso.

No meu blog há um espaço dedicado totalmente ao evento: http://rochetttavares.blogspot.com/p/palestra.html

Ademir Pascale: Além do Criaturas e Anakagawea, livro do projeto "Livros Grátis", você também é autor do livro Abismo. Qual dos seus livros mais lhe marcou e por quê?

Rochett Tavares: Cara, nessa você me pegou (risos)! Cada um tem sua identidade. O Criaturas foi o primogênito, a gênese da coisa. Vivemos muitas aventuras juntos. Passamos por uma bienal (a de 2010 em Fortaleza), fomos selecionados num edital da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará, onde meu velho amigo ganhou uma versão 2.0 (exatamente a que relançarei em SP), inspirou coisas e me fez enxergar outras.

O Abismo, como todo segundo filho, foi tratado a partir das experiências com o irmão mais velho. Está mais maduro, expande a mitologia do Criaturas e explora itens que os leitores pediram para ver num próximo livro. É ele que será lançado em outubro de 2011 também em Portugal, por uma editora lusitana que leu meu original e decidiu publicá-lo, mesmo o autor não possuindo um nome de peso ou sendo conhecido no mercado editorial de qualquer país.

Anakagawea foi o resultado de um experimento. Nunca fui chegado a histórias de amor nem a erotismo. Todavia, imaginei como seria uma narrativa nesses moldes transposta ao universo sombrio de meus contos. Confesso que foi a coisa mais forte que escrevi até hoje. Essa é, digamos, a filha rebelde (risos). É justamente essa “menina” que estréia o Projeto Livros Grátis!!! Pensei o seguinte: se eu exorto meus colegas autores a colaborarem comigo num projeto totalmente gratuito, eu deveria dar o exemplo e sair na linha de frente. E foi uma coisa legal, pois a visibilidade desse ebook é comparável a de um lançamento nos moldes tradicionais. E com a vantagem de que o leitor pode baixá-lo quando e onde quiser.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista, o que seria preciso para tornar o Brasil um país de leitores?

Rochett Tavares: Eu poderia bater naquela tecla de sempre, cuja melodia é: “investimentos do governo” ou “melhorias no sistema educacional”, mas não vou. Sabe por quê? Porque o brasileiro lê, sim. Infelizmente, só o que vem com nomes de autores estampados nas capas capazes de dar um nó em nossas línguas quando tentamos pronunciá-los.

Não que os autores estrangeiros não sejam bons, nada disso. Sou fã incondicional do mestre Howard Phillips Lovecraft e do não menos excelente Philip K. Dick. Entretanto, quando comecei a ler e tomei contato com o universo fantástico não havia tantas opções em nosso país como hoje. Tenho orgulho em ver que as mentes dos nossos jovens ou não tão assim (tenho 35 – risos) estão fervilhando de idéias.

Não importa se são lobisomens na Noruega, bruxas em São Paulo ou coisas sem nome rastejando no interior de Minas Gerais. O brasileiro está vendo que há mais coisas além de futebol, samba e cerveja em suas vidas.

Naquele texto que fiz em homenagem e apoio à sua iniciativa que vale ser comentada e repetida pelos anos que vem por aí (torço para os cultistas do fim do mundo em 2012 estarem enganados), o “No dia 20 de julho, dê um livro nacional de presente!”, comento essa situação. Desde a colônia, incutiram em nós o hábito de pensar que se algo vem de fora, é melhor que o que tem por aqui.

A prova disso é que o Harry Potter, os vampirinhos purpurinados (nada contra quem curte os dois tipos de literatura) são um fenômeno de vendas bem como tantas outras obras soltas nas prateleiras de livrarias grandes e pequenas que me deixam corado só de imaginar o conteúdo daquelas páginas.

O caso é que fizeram o brasileiro esquecer que se deve valorizar o que é de dentro. Que, em nosso país, temos Rowlings, Meyers, Kings e uma infinidade de autores com textos que dão de 1000 a zero ou, no mínimo, não deixam nada a dever aos importados. Porém, o mercado nacional só se interessa pelo que é sinônimo de venda. Excetuando-se algumas editoras que dão valor a nossos escritores, a coisa é alarmante. Se está estampado na capa como Best-seller no NY Times, deve ser uma maravilha. Bruna Surfistinha que me perdoe, mas sinceramente, aquilo que vende muito nem sempre é sinônimo de qualidade.

Ademir Pascale: Como os internautas poderão saber mais sobre Rochett Tavares e suas obras?

Rochett Tavares: Através do blog: http://rochetttavares.blogspot.com e do site: http://www.rtavaresconsultoria.com.br/pergaminhos/livros

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Rochett Tavares: Sim. Mais dois livros que sairão provavelmente no primeiro semestre de 2012 dentro do universo de Criaturas e Abismo. Mais volumes para o Projeto Livros Grátis!!! E a bienal de 2012 aqui em Fortaleza-Ceará. E, é claro, ler o máximo de obras que meus colegas da LitFan nacional produzirem!

Perguntas Rápidas:

Um livro: Estrangeiro: O chamado de Chthulhu / Nacional: Noite na Taverna
Um(a) autor(a): Estrangeiro: Howard Phillips Lovecraft / Nacional: Álvares de Azevedo
Um ator ou atriz: Estrangeiro: Vincent Price / Nacional: Paulo Autran
Um filme: Eu sou a lenda, versão anos 50
Um dia especial: O nascimento de minha primeira filha

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Rochett Tavares: Em primeiro lugar, agradecer a oportunidade cedida por você, Ademir, em seu site para este escriba do obscuro propagar suas idéias. Na sequencia, agradecer aos leitores que nos apóiam adquirindo material nacional, as editoras cujas portas se abrem ao escritor brasileiro e, finalmente, aos colegas autores que se esforçam (por que ser escritor no Brasil não é uma atividade fácil e todos temos nossos empregos, faculdades e uma infinidade de atribuições que não caberiam aqui se enumeradas) para trazer novos universos, novos reinos, explorando novos mundos, novas civilizações, audaciosamente nos levando aonde nenhum homem jamais esteve! (Sim, sou um nerd de coração e fã de Star Trek!)

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Abismo - Rochett Tavares

 

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistado: Rochett Tavares.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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