CRÍTICA - 10.000 a.C.:
Digam o que quiserem,
Roland Emerich é uma realidade do cinema, ainda mais
levando-se em conta a realidade na qual essa
industria se encontra hoje. Uma época em que o custo
benefício é a palavra de ordem, e só se sobrevive
quem consegue levar o maior números de pessoas ao
cinema, e isso Emerich faz bem.
Mas não se enganem, esse distinto diretor não sabe a
formula mágica e muito menos reinventa o cinema a
cada lançamento com seu nome, é muito mais simples:
Emerich vem, desde de “Soldado Universal” fazendo
seus filmes terem ótimas bilheterias, com isso,
propiciando mais dinheiro para seu próximo projeto,
e quanto mais dinheiro um filme tem para gastar mais
fácil fica para o diretor mascarar um história
xinfrim e vendê-la como épico.
“Independence Day”, “Godzilla”, “O Patriota” e “O
Dia Depois de Amanhã” são exatamente isso, e já era
de se esperar que seu mais novo filme, “10000 A.C.”
não fugisse dessa regra. Mais uma vez o que vemos na
tela é a mais velha das histórias, onde o personagem
desacreditado por todos tem que comer o pão que o
diabo amassou para no final se tornar o herói que o
cinema todo quer bater palma.
O espectador normal do cinema sempre vai se
aproximar desse personagem, torcer por ele o filme
inteiro, ser cegado por todo dinheiro gasto em
efeitos especiais, ficar surdo com o volume saindo
da trilha épica instrumental, sair do cinema
satisfeito, indicar para o amigo e pronto, aí está a
garantia de mais um blockbuster na carreira do
diretor.
Se no meio da madrugada, esse mesmo espectador que
indicou o filme, desse de cara com um um herói que
encontra um pedaço de um colar, e com isso chega a
conclusão de que o amor da sua vida, que foi levando
pelos bandidos, está deixando aquilo como pista, na
mesma hora, com o controle remoto na mão, vai
reclamar que ela bem poderia estar morta, que aquilo
não provaria nada e poderia estar jogada em qualquer
canto, enquanto essa busca sem sentido continua. Mas
o mais importante, é que iría reclamar aos quatro
cantos do mundo que viu um filme horrível na TV.
E aí que reside o poder do diretor, de mascarar
esses clichês, usando-os a favor, não dele mesmo,
mas da história, aproximando tudo isso ao público e
criando diversão, se não para você, que procura um
pouco mais que um filme descartável, para aquelas
pessoas que entram no cinema para se desligar do
mundo por um tempo e viajar no mundo projetado a sua
frente.
Esse público que conseguir entrar de cabeça no filme
não vai perceber o quando o o começo covarde perde
uma ótima oportunidade de criar um clima sensacional
fazendo uma apresentação silenciosa, com as imagens
contando uma história, pelo contrário, impõe uma
narração quase ridícula, explicativa demais e que
quebra totalmente o clima (mesmo sendo feita pela
lenda Omar Shariff, que deve estar com falta de
trabalho).
Tão pouco vai perceber o quanto é triste é a
“participação” do temido dentes-de-sabre, que mesmo
despontando nos cartazes no cinemas, se resume a
duas cenas, nas quais nem perigo ele leva para
ninguém, dando o lugar de predador a um bando de
avestruzes selvagens com complexo de velociraptors.
E se nem isso ele perceber, muito menos vai por em
pauta o quando o diretor subjulga a inteligência do
pobre coitado sentado no escuro ao mostra o herói
carregando um maca durante um dia ensolarado,
cortando para a mesma cena no cair da tarde e
surpreendentemente seguindo na noite, quando uma
simples cena da maca sendo carregada por mais uns
dez segundos, teria o mesmo efeito.
Mas tudo bem, esse é o cinema objetivo de Roland
Emerich, mastigado, onde ninguém precisa usar mais
de um neurônio para entender nada, que não emburrece
o espectador, mas facilita quem quer algo
descartável. “10000 A.C.” passa imperceptível diante
dos seus olhos, quando se vê já foi, já ascendeu a
luz e esqueceu de tudo.
Ficha Técnica
Título Original: 10.000 a.C.
Gênero: Aventura
Duração: 109 min.
Ano: EUA/Nova Zelândia - 2008
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Direção: Roland Emmerich
Roteiro: Harald Kloser e Roland Emmerich