CRÍTICA: FIM DOS TEMPOS - Não sei bem o que
acontece com M. Night Shyamalan. Depois do
arrepiante "O sexto sentido", o diretor
indo-americano nunca mais acertou a mão. Em sua
quarta tentativa após o mega sucesso do filme que
revelou o ótimo ator-mirim Haley Joel Osment, ele
nos apresenta uma produção B que dificilmente
repetirá a façanha do seu primeiro e inesquecível
longa-metragem, de 1999.
Lá se vão nove longos anos sem que Shyamalan
justifique a fama a que fez jus repentinamente. Após
"O sexto sentido", seu primeiro e único sucesso, ele
já filmou a grande bobagem que foi "Corpo Fechado",
o apenas razoável "Sinais", o amado/detestado "A
Vila" e o fiasco "A dama do lago", sempre com
orçamentos decrescentes. Dessa vez, assumindo
publicamente que fez um filme de baixo orçamento, o
diretor procura antecipadamente se desculpar por
algumas cenas no mínimo burocráticas, em um filme
sem nenhuma imaginação e com um elenco que não
funciona.
Numa bela manhã, a cidade de Nova York acorda com um
acontecimento inexplicável: as pessoas,
repentinamente, começam a se matar, sem nenhum
motivo aparente. As primeiras notícias dão conta de
um ataque terrorista com armas químicas, e a onda de
terror se espalha pelo leste dos Estados Unidos,
levando o professor Elliot Moore (Mark Wahlberg),
sua esposa Alma (Zooey Deschannel) seu amigo Jullian
(John Leguizamo) e sua filha de oito anos Jess (Ashlyn
Sanches) a empreender uma fuga desesperada pelo
interior do país, em busca de um lugar seguro que
parece não existir. Nesse ponto do longa, a
semelhança com outros filmes-catástrofes recentes,
como "Meteoro" e "A guerra dos mundos" é visível,
com toda a desvantagem que um baixo orçamento pode
pagar. O diretor ainda tenta segurar o interesse da
platéia apelando para o senso de humor, mas o
roteiro, aliás, escrito por ele mesmo, não deixa.
Resultado: uma hora e meia de uma pretensa crise
ambiental que culpa a mãe-natureza pelos suicídios,
como vingança dos desmandos cometidos pela
humanidade.
Mesmo com toda boa vontade do diretor, as atuações
não convencem. Mark Wahlberg parece ter regredido à
época em que não passava de um ator canastrão (e
olha que isso nem faz tanto tempo assim...) enquanto
o bom John Leguizamo não tem tempo para dizer a que
veio. O roteiro é superficial, a crise conjugal
vivida por Elliot e Alma é superficial, a traição da
esposa é superficial e o ciúme do marido também.
Como par romântico eles não conseguem convencer o
espectador, pois apesar de casados, parecem dois
desconhecidos, não há uma única troca de beijo entre
eles. Difícil entender como ela aparece grávida no
final.
Outro senão do filme é a falta de um vilão que
realmente assuste, afinal a simpática brisa que o
diretor escolheu para personificar a vingativa
mãe-natureza, conseguiu ser menos expressiva que o
Mark Wahlberg, coisa que eu julgava ser
impossível...
Creio que, no fundo, o grande problema de M. Night
Shyamalan seja estar tentando repetir o sucesso do
seu primeiro filme. Isso está fazendo com que ele
perca o foco e esqueça que Holywood é uma fábrica de
diversão. Sugiro que ele procure se levar menos a
sério do que tem feito até agora. Quem sabe não seja
uma boa idéia dirigir uma comédia? Pelo menos
estaríamos achando graça na coisa certa...
Direção: M. Night Shyamalan.
Elenco: Mark Wahlberg, Zooey Deschannel, John
Leguizamo, Spencer Brezley, Ashlyn Sanchez.
Origem/Ano de produção: EUA/2008.
Duração: 96 min.