CRÍTICA - FOI APENAS UM SONHO - “Nada
no mundo é pior do que ser comum”. A frase escrita
pelo escritor gaúcho Caio Fernando Abreu (1948 –
1996) cairia como uma luva para April, a
dona-de-casa desesperada interpretada por Kate
Winslet. No melhor estilo “Desperate Houseiwes” o
novo filme de Sam Mendes, narra a trajetória de um
casal a beira do desgaste, quando percebe que seus
sonhos estão sendo esmagados pelo cotidiano.
Cabe a mulher tentar reverter o jogo da infelicidade
do casal, quando percebe que o dia-a-dia é mais
nefasto do que parece. Atriz fracassada e mãe de
dois filhos, April acredita que se mudar para Paris
– terra onde o marido sempre imaginou poder viver
melhor – seria como uma renovada na história
individual de cada um. Ela poderia ir trabalhar –
abandonando assim a vida domestica – e ele poderia
se dedicar a descobrir do que gosta.
Sonho esse abalado, que quando o marido,
interpretado por Leonardo DiCaprio ganha uma suposta
projeção na carreira, que vem com um novo cargo no
emprego. Local esse que o pai trabalhou por anos, há
quem ele não gostaria de imitar.
Como a vida é uma repetição e por vezes nos vimos
repetindo hábitos de nossos pais. Frank (DiCaprio)
decidi que viver em “Revolution Road”- condomínio
onde vivem - é o melhor a ser feito. Quando April
revela a gravidez do terceiro filho, a ida até Paris
se torna menos provável.
“Foi apenas um sonho” é antes de tudo um filme sobre
a decadência do imaginário coletivo que crê que uma
bela casa, filhos saudáveis e emprego estável
sentencie uma vida feliz. Muito pelo contrário, a
beleza americana é uma farsa, os casais são
infelizes, mascaram a realidade, apenas se suportam
e a felicidade que tanto almejam, reside na
realização dos próprios desejos, mesmo que isso
sacrifique os que o rodeiam.
É um filme feminino. April, lembra Julianne More em
“As Horas”. O filme de Mendes não tem a densidade do
filme de xxxxx, não tem a acidez do filme de Todd
Solondz (Felicidade) e nem o humor corrosivo do
primeiro filme de Mendes (Beleza Americana) a
abordar a questão, mas proporciona ótimos momentos e
desempenho interessantes dos atores, que já formaram
par romântico em “Titanic”, quando Kate era uma
reles desconhecida.
O silêncio é usado pelo diretor para evidenciar o
ninho confuso que – às vezes – reside na alma
humana. Esses os melhores momentos do filme, que
potencializa o drama de April em enquadramentos
sutis e pontuais.
O filme indicado a três Oscar – direção de arte,
figurino e Ator coadjuvante – deixou de fora a
indicação ao ótimo desempenho de Kate, que foi
agraciada com dois Globo de Ouro de melhor atriz, um
por “Foi Apenas um Sonho” e outro por “O Leitor”.
Não fosse o tom acusatório do filme, evidenciado
pela personagem do “louco” (interpretado por Michael
Shannon), o filho de um casal de amigos, o filme
teria suas metáforas potencializadas e o final não
teria sido tão óbvio.
“Foi apenas um sonho” é denso e triste, pois traz a
tona personas que não conseguem (com) viver com a
própria realidade, são infelizes no seu dia-a-dia e
por mais que se esforcem não conseguem se enquadrar
na rotina. São obrigados a se conformarem com sua
realidade, que por vezes é sufocante e aniquiladora.
Cruelmente real.
Ficha Técnica
Título Original: Revolutionary Road
Gênero: Drama
Duração: 119 min.
Ano: EUA / Inglaterra / 2008
Distribuidoras: DreamWorks Distribution / Paramount
Pictures / UIP
Direção: Sam Mendes
Roteiro: Justin Haythe, baseado em livro de Richard
Yates