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RESENHA CRÍTICA DO FILME "HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO"   
por Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema -
e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br
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HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO  -  (Foto Divulgação)

CRÍTICA - HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO -  Filmes sobre a perda e a recuperação da vida pós a derrota para a morte são dolorosos, necessários e com sorte e criatividade indispensáveis. "Há tanto tempo que te amo" (2008) que recebeu indicações para o Globo de Ouro de melhor atriz para Kristin Scott Thomas e o de melhor filme estrangeiro, além do Bafta de melhor filme estrangeiro – por exemplo - parece pouco para um filme cheio de adjetivos positivos. Philippe Claudel propõe ao seu expectador um mergulho nas subjetividades humanas, alinhavando sentimentos tão complexos como culpa e aceitação, preparando o receptor para o banho de humanidade que suas personagens femininas carregam.
Juliette (Kristin Scott Thomas) passou 15 anos na prisão e ao mesmo tempo perdeu a conexão com o que a mantinha no mundo. Perdeu marido, filho, pais e irmã. Não restou nada para a mulher que passou o resto dos seus dias reclusa e distante. O que parecia o fim, um aprisionamento por determinado tempo, acabou se tornando apenas uma etapa da vida de Juliette, que liberta das leis dos homens, acaba se reaproximando da única irmã.
Lea (Elsa Zylberstein) é bem casada, possui duas filhas adotivas e um sogro que não incomoda ninguém. É a típica mulher mediana (talvez o sonho de muitos), com família, amigos e emprego em perfeita harmonia. Teve sua subjetividade minada com a lavagem cerebral proporcionada pelos pais, após o ato condenável cometido pela irmã.
O que Juliette teria feito, para ser uma mulher tão apática e mesmo assim merecer o carinho de Lea e o que prende o expectador na tela por duas horas. Claudel conduz sem pieguismo e chavões, o drama da reconstrução de vida de uma mulher e as consequências e reverberações de tal individuo, nas pessoas que a rodeiam. Não é fácil para Juliette se readaptar, recomeçar, se envolver e/ou demonstram qualquer tipo de afeição. O que parece apenas um filme sobre uma ex-presidiária toma proporções variadas. Cada personagem tem suas idiossincrasias reveladas a ponto do público presente no cinema, ter a oportunidade de "ver" a vida de ângulos tão dispares e tão ricos, tal a beleza simples do cotidiano de cada um.
Ambas as atrizes preenchem suas personagens de uma verossimilhança que a empatia surge naturalmente, como se elas fossem alguém muito próximo a nós. Não nos identificamos com o drama delas, mas as entendemos. Nos colocamos no lugar delas. Avaliamos, enquanto ficamos fazendo suposições para o fim do filme, o que faríamos. Como recomeçar quando tudo literalmente se perde?
O vazio de Juliette é exposto com categoria por Kristin, que recheadas de silêncios e frases curtas e certeiras, afirma que o silêncio as vezes fala mais. Para essa mulher não há facilidades, futilidades, ou qualquer outra coisa que a distancia de si mesma. O mundo é pouco para ela. Não por arrogância, mas por respeito a si mesma e aos seus sentimentos.
A Morte, a grande vilã de tudo e todos, aparece como uma cruel companheira, sorrateira e pronta a destruir aquele que amamos, como se não bastasse apenas sumir com ele. A morte interna, nossa de cada dia, também está lá, nos personagens coadjuvantes, nas metáforas presentes no filme. Seja o policial que deseja fugir para um rio. O senhor que receita o fim das atividades do próprio corpo. O professor que se reserva, para se preservar. O avô que só ouve e nada diz, como que rindo das nossas inevitáveis mazelas cotidianas.
Dar as respostas prontas no final do filme talvez acabe com o que ele tem de mais precioso que é tal da subjetividade. Não saber o que levou Juliette a cadeia talvez proporcionasse ao expectador um mergulho num mundo sem respostas, portanto mais cruel e verossímil. É como se Claudel se rendesse aos recursos mais fáceis do roteiro e oferecesse de “mão beijada” uma verdade absoluta. A vida não é tão condescendente conosco.
"Há tanto tempo que te amo" indicado para maiores de 18 anos não é fácil, mas também não é impossível de ser acompanhado por adolescentes. É um filme duro, sério, pesado e porque não profundo. Tocando fundo em questões cruciais do ser humano - como a aceitação dos defeitos alheios - e obrigando o expectador a se ver refletido (mesmo que na pele de outro, porque você provavelmente não se identificará com Juliette ou Lea) nesse holograma de possibilidades que a vida nos proporciona diariamente. A família continua servindo de base para todas as consequências dos nossos atos. Tem como ser diferente?

FICHA TÉCNICA
Gênero: Drama
Direção e roteiro: Philippe Claudel
Duração: 115 min.
Elenco: Kristin Scott Thomas, Elsa Zylberstein, Serge Hazanavicius, Laurent Grévil, Frédéric Pierrot, Jean-Claude Arnaud, Lise Ségur

  
Trailer do filme Há tanto tempo que te amo

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Crítico: Rodolfo Lima - Jornalista, ator e crítico de cinema - e-mail: dicaspravaler@yahoo.com.br

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