CRÍTICA - HANCOCK:
Enquanto a hilária idéia do super-herói que combate o crime totalmente
bêbado, que não está nem aí para os prejuízos que
causou, e muito menos para ninguém, nem para ele
mesmo, já que se veste como um mendigo qualquer,
está no auge, o filme de Peter Berg funciona como
uma engrenagem azeitada. Mas a velha mania de
Hollywood de mastigar toda e qualquer trama para não
cansar seu público acaba quase destruindo o herói,
muito mais que qualquer vilão. Ou será que ela mesma
é o próprio vilão?
O caso é que o herói, ou anti-herói, vivido Will
Smith em momento inspirado, voando de um jeito
destrambelhando pelos céus de Los Angeles, diverte e
muito, seja com sua má-educação ou com seu desprezo
pela moral e os bons costumes, e quando isso vai
embora, e ele se força a se tornar uma pessoas
séria, toda magia do filme se vai junto.
É lógico que o filme e sua trama pedem por isso,
principalmente quando o RH vivido por Jason Bateman
resolve limpar a imagem do herói, e transformá-lo em
algo saído de algum gibi. É nessa hora que a platéia,
que se divertia com aquilo, passa a contestar toda
trama. E um espectador contestador é um crítico em
potencial, que acaba não se deixando enganar por
toda roupagem criada para apresentar um desfecho
desinteressante, que não combina com o resto e que
ainda por cima quase não tem pé-nem-cabeça.
Não se pode nesse caso culpar o diretor Peter Berg,
que com seu jeito “Tony Scott” de ser, dando uma boa
roupagem para todo filme, sempre com um visual meio
rebuscado e colado na ação, deixando tudo com uma
cara de um exagero que combina com a ação. Só peca
em mais uma vez juntar dois filmes em um, como fez
em “O Reino” descaracterizando o filme como um todo.
Mas é preciso lembrar que, a cada investida do
herói, o resultado é sensacional, na maioria das
vezes engraçado e bacana, deixando o filme com um
frescor diferente dentro dessa onda de adaptações
de quadrinhos. Curioso, já que “Hancock” só parece,
mas na verdade é uma criação puramente
cinematográfica, adaptado de um roteiro que
circulava por Hollywood a mais de uma década e que
na verdade apresentava uma visão bem diferente dessa
que estreou nos cinemas, mais centrado nos problemas
do personagem central e menos em seu heroísmo. Mas
isso é outro caso e nunca se saberá (até quem sabe
uma refilmagem daqui a uns vinte anos) qual seria o
resultado.
Mesmo errando e colocando o ápice do filme em seu
meio, e deixando o resto capenga, “Hancock” vai
divertir muito mais que chatear, com um humor afiado
e efeitos especiais que não exageram nos resultados
aproximando muito bem a ação dos espectadores. O
problema é que a maioria deles só vai lembrar o
final desastroso na hora de não indicar o herói para
o amigo. Coisa que não se pode culpá-los já que o
filme acaba sendo apenas “bacaninha” quando tinha
tudo para ser um “filmão”.
Culpa de Hollywood (?).
FICHA TÉCNICA Hancock (Hancock) 2008, EUA, 97min,
Direção: Peter Berg/ Roteiro: Vicent Ngo e Vince
Gilligan
Elenco: Will Smith, Charlize Teron Jason Bateman