CRÍTICA - FILME - O CAÇADOR DE PIPAS -
Segundo a revista Época de 14 de Janeiro de 2007 a
ficção O Caçador de Pipas está há 120 semanas na
lista dos mais vendidos, ou seja, há mais de 2 anos.
Lançado em 2003 e traduzido para 42 idiomas, o livro
do afegão Khaled Hosseini vendeu oito milhões de
exemplares, 20% destes livros estão entre os
brasileiros. Você provavelmente conhece alguém que
tem um exemplar.
Não li o livro – portanto não poderei qualificá-lo à
partir do original – mas fiquei curioso ao ver o trailer. A história de amizade entre Amir (Zekiria
Ebrahimi) e Hassan (Ahmad Khan Mahmoodzada) é bonita
e trágica na mesma proporção. O filme não colabora
para que a relação deles seja intensa, mas é.
Amir pertence á classe média alta do Cabul, veste
Lacoste, é incompreendido pelo pai – que menospreza
sua sensibilidade e falta de coragem – e tem como
fiel escudeiro e amigo o filho do empregado, o
sempre disponível Hassan, menino sensível que
“prevê” onde as pipas cairão. A primeira parte do
filme, onde vemos a amizade, a incompreensão e a
covardia minar a relação dos garotos é a mais
interessante.
O egoísmo de Amir faz com que Hassan seja culpado
por algo que não cometeu. Sua covardia ocasiona o
humilhante estupro do amigo. E sua incapacidade de
ação faz com que seja visto como um frouxo pelo pai.
Afinal, quem não sabe se defender, não é capaz de
defender suas idéias.
Este é uma das questões que provavelmente está
incluída no livro de Hosseini e que estão diluídas
em cena, num filme feito para chorar, mas que por
algum motivo, não atinge seu objetivo.
Quando Amir adulto (Khalid Abdalla) é obrigado a
resgatar o filho do amigo, soa como compensatório.
Não é? Não da para acreditar que Amir mereça ou deva
ser perdoado pela crueldade de que expôs o fiel
amigo. Fiquei muito curioso em ler o livro para ver
qual a impressão que terei sobre tal postura de Amir,
o vilão da história. Estarei sendo maniqueísta ao
classificá-lo assim?
Todos merecem redenção e Amir busca isto e o filme é
sobre esta possibilidade de recomeço. A questão
política está presente, o xenofobismo entre as
várias tribos afegãs e a crueldade de sua cultura,
idem.
De certo modo o nacionalismo americano está
presente, pois é justamente na terra do Tio Sam que
o protagonista se salvará. O Caçador de Pipas, se
encarado como uma história de amizade e perdão, não
passa de um Blockbuster cristão. Mas, que mal existe
nisto?
Como eu, outras pessoas se interessarão em ler o
livro e as questões políticas – melhor explicitadas
no livro, me disseram – estarão esclarecendo e
ajudando a entender quantos mundos existem no
Afeganistão. O único problema de ler o livro agora é
esquecer do rosto cativante de Mahmoodzada (Hassan)
e sua fidelidade quase ingênua de tão extinta nos
tempos atuais.
Marc Forster teve melhor desempenho ao contar a
história do pai do Peter Pan (Em busca da terra do
nunca). O Caçador de Pipas, oferece um filme
embalado para consumo, que pode – e deve? – levá-lo
as lágrimas. Vá conhecer Hassan! O roubo pode ser um
dos piores pecados, mas a mentira prevalece
avassaladora.
Ficha Técnica
Título: O Caçador de Pipas (The Kite Runner)
Gênero: Drama
País de Origem: EUA
Classificação etária: 14 anos
Duração: 122 min.
Ano: 2007
Direção: Marc Forster
Site oficial:
http://www.kiterunnermovie.com