ENTREVISTA COM O ESCRITOR WALTER TIERNO

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor Walter Tierno.
 (21/08/10)

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Walter Tierno - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Para iniciarmos, gostaria de saber quais foram as suas principais influências e o seu início para o meio literário.

Walter Tierno: Minhas principais influências literárias são Neil Gaiman, Érico Veríssimo, Bernard Cornwell, Frank Herbert e George Orwell. Muito do meu estilo vem da leitura dos livros deles. Já nos quadrinhos, meu trabalho foi muito influenciado por Frank Miller, Will Eisner e Laerte. Sobre meu início literário: escrever sempre foi uma paixão, assim como desenhar. Talvez por isso eu seja tão maníaco por histórias em quadrinhos. Meu livro “Cira e o Velho”, por exemplo, havia começado como uma história em quadrinhos. Mudei de ideia há uns dois anos. A prosa permite criar mais e eu queria que “Cira” tivesse flexibilidade para se encaixar na imaginação dos leitores. Que cada um imaginasse “sua própria Cira”. Agora, peguei gosto pela coisa. Tenho uns dois projetos de quadrinhos, mas meus próximos trabalhos ainda serão em prosa.

Ademir Pascale: Como surgiu a ideia da criação da sua mais recente obra intitulada Cira e o Velho (Giz Editorial)?

Walter Tierno: Foi um processo longo demais, apesar da aparente simplicidade do livro. Como eu disse, era uma história em quadrinhos. Eu a comecei logo depois de lançar uma revista, chamada “Curtan”, em 2000. Inexperiente e apressado, acabei frustrado com o resultado e queria alcançar uma espécie de redenção. Quando comecei “Cira”, ela nada tinha a ver com o que é hoje. Não vou entrar em detalhes, porque a ideia inicial era ridícula demais. O que interessa é que, em determinado momento, eu olhei para meus livros de “O Senhor dos Anéis” e pensei: “Por que eu não faço algo nesse estilo?”. A ideia de ambientar no Brasil, usando elementos do nosso folclore, foi um curso mais do que natural para mim. Foi minha primeira ideia. Nunca me passou pela cabeça falar sobre cultura céltica, dragões, elfos ou coisas do tipo. Sempre considerei mais coerente trabalhar com elementos reconhecíveis e acessíveis, que criam reconhecimento imediato e empatia.

Ademir Pascale: Como está sendo a receptividade dos leitores por se tratar de uma obra ligada ao folclore nacional numa época onde os vampiros são tão aclamados?

Walter Tierno: Eu, particularmente, não sinto atração por vampiros. Nunca senti. Já li “Drácula” de Bram Stoker, assisti ao filme de Copolla (muito bom, por sinal) e ao “Entrevista com o vampiro”. Isso foi o máximo que explorei do tema. Não sei... pode ser que eu, um dia, acabe tendo alguma ideia, mas desconfio, considerando meu estilo, que acabarei corrompendo muitos dogmas. Pensando bem, pode até ser divertido... Quanto a “Cira e o Velho”, eu ainda não tenho dados sobre a receptividade geral dos leitores, principalmente os leitores do gênero fantasia. As pessoas que são mais próximas e que já leram, gostaram. Muitas até perguntam se haverá continuação. É curioso trabalhar com lendas brasileiras. A primeira coisa que vem à cabeça são aqueles desenhos mimiografados ou xerocados que as professoras distribuíam no Dia do Folclore para colorir e encher de glitter. Você fala “curupira” e a mente de qualquer um vai direto para alguma memória de infância. Acredito que isso é uma das grandes barreiras para que se escrevam mais histórias usando elementos brasileiros. Leitores e autores sentem mais firmeza quando pensam em um dragão, no alto de uma montanha na Islândia - ou qualquer outro país muito gelado - do que na Cuca.

Ademir Pascale: Quando recebi o seu livro como cortesia, notei algo diferente dos demais que venho recebendo, um kit imprensa muito caprichado, com um cd contendo todas as informações necessárias sobre a obra e o autor, além de cards ilustrados belíssimos com as personagens. No seu ponto de vista, você acha que o fato de ser ilustrador, jornalista e publicitário facilita e viabiliza ainda mais a sua obra na mídia?


Walter Tierno: O fato de eu ser ilustrador e jornalista facilitou na hora de montar kits caprichados. Só isso. Quanto à penetração na mídia, estou contando com a ajuda de um amigo de longa data, Marcelo Toledo, que é assessor de imprensa. Ele embarcou nessa, não só por nossa amizade, mas também porque ele realmente gostou do livro. Mas divulgar o livro de um autor iniciante na mídia é difícil. Muito difícil! Não existe uma fórmula. Enviei kits como esse que você recebeu para vários veículos e para blogueiros que entram em contato. Tenho dado preferência a esse tipo de comunicação porque atinge público específico. E tem muito leitor que confia mais em opinião de blogueiro, que muitas vezes é um cara comum, como ele, com preferências parecidas, do que em jornalistas de grandes veículos.

Ademir Pascale: Existe algum apoio da editora Giz na publicidade do livro Cira e o Velho ou isso fica a cargo apenas do autor?

Walter Tierno: A publicação de “Cira e o Velho” é independente. Estou bancando os custos e monitoro cada parte do processo. A Giz faz a divulgação básica junto a seus contatos, coloca o livro em distribuidoras e livrarias e participa de feiras e eventos importantes, como as Bienais de São Paulo e Rio e a Fantasticon. É muito mais do que faz qualquer uma das editoras que publicam obras independentes ou “por demanda”. A maioria dessas editoras coloca seu livro à venda em sites que ninguém visita, deixam a tiragem na porta da sua casa e “vire-se”. A Giz dá mais suporte. Seria pedir demais que eles investissem em propaganda para um livro independente. Falhas e desencontros existem na minha relação profissional com a Giz. Mas isso acontece em qualquer relação comercial.

Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para adquirir o seu livro?

Walter Tierno: Por enquanto, está à venda no site da Martins Fontes Paulista (e também na loja física) e no site da livraria Cultura. Se for bem após a Fantasticon, pretendo imprimir mais alguns e espalhá-los por mais livrarias, talvez até em uma distribuidora. Também tem na livraria Moonshadow. No site da obra (www.ciraeovelho.com.br) ele já pode ser comprado, entrando em contato por e-mail. Por enquanto, eu apanho o pedido e envio após o depósito bancário (sem frete!). Mas em pouco tempo o livro poderá ser comprado pagando pelo PagSeguro.

Ademir Pascale: No seu ponto de vista, como está o mercado editorial referente à publicação de autores nacionais?

Walter Tierno: Como sempre foi: difícil! Os editores não querem apostar em novos talentos ou desconhecidos. Não dá para culpá-los por isso. Editora é um negócio. Só lamento que eles estejam tão apavorados com tantas coisas: crise econômica, e-book, pirataria... Estão fazendo projeções e adivinhações exageradas. Tem gente declarando o fim do livro de papel, o fim da palavra escrita, o fim da cultura, o fim do mundo... Não é para tanto. A internet, por sua vez, é uma ferramenta, nada mais, nem menos. Não é o começo, meio e fim de nada. Ela tem ajudado a divulgação de novos autores. Veja o caso do Eduardo Spohr, por exemplo, que estourou através de um blog! Eu tenho tido mais receptividade ao meu trabalho por blogueiros, pelo que agradeço muito. O mercado editorial está sofrendo do mesmo mal que assola a mídia em geral. O culto à celebridade, ao que é fácil. A infantil repetição de fórmulas que agradam. Na Bienal de São Paulo, eu vi uns três livros biográficos sobre Lady Gaga. Pelamordedeus! Ela só tem 24 anos! A primeira reação que temos é chamar os editores de mercenários e os leitores de ignorantes. Mas é tão simples? Claro que não!

Ademir Pascale: Poderia dar algumas dicas para os jovens que estão ingressando no meio literário?

Walter Tierno: Em primeiro lugar, escrever é uma arte e, como artista, você tem que ser, essencialmente, um questionador. Uma metralhadora de dúvidas, que dispara em tudo à sua volta e que, em muitas ocasiões, tem que estar virada para você. Questione o mundo à sua volta, questione-se, mas, o mais importante, questione muito seu trabalho. Não se deixe levar pela afobação. Escrever um livro é uma arte que exige paciência e capricho. Não é a toa que muitos artistas são atormentados. Em segundo, seja inovador. Não se contente em ficar requentando ideias. Mas mais importante do que isso é não ser prolixo! Detalhes que são prazerosos para você, enquanto escreve, podem não provocar nenhum interesse no leitor.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta?

Walter Tierno: Tenho uma ideia para uma história em quadrinhos que ainda está fermentando. Essa vai demorar um pouco. Tenho intenção de escrever um livro de ficção científica. Ainda estou montando os personagens e a trama. “Cira e o Velho” é um livro independente. Não exige continuação, mas tenho ideia para outros dois sobre Cira, além de uma antologia de contos com ela. Mas esses dois livros de Cira exigirão muito trabalho de pesquisa, então demorarão um pouco para serem publicados. Tenho outras ideias na cabeça, mas são embrionárias demais até para mencionar.

Ademir Pascale: Como os interessados deverão proceder para saber mais sobre Walter Tierno e a obra Cira e o Velho?

Walter Tierno: Acessar o site www.ciraeovelho.com.br e meu blog: www.waltertierno.wordpress.com. Tem também o Twitter: http://twitter.com/waltertierno

Perguntas Rápidas:

Um livro: 1984
Um(a) autor(a): Will Eisner
Um ator ou atriz: Lima Duarte
Um filme: King Kong de 1933
Um dia especial: quando conheci minha esposa
Um desejo: viver daquilo que amo fazer

Ademir Pascale: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Walter Tierno: Não pretendo levantar nenhuma bandeira. Não estou fazendo uma defesa sobre utilizar os elementos da nossa cultura, blá, blá, blá... seria uma hipocrisia indescritível. Só quero deixar isso bem claro. Levantar bandeiras é um negócio sério. Não se deve ser leviano. Aproveitando: não sejam levianos na hora de votar. Obrigado.

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Cira e o Velho - Walter Tierno

 

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com - www.twitter.com/ademirpascale
Entrevistado:  Walter Tierno
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

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