Entrevista com Henrique Chagas.
O Administrador do cranik "Ademir Pascale"  entrevista o criador do sitio cultural Verdes Trigos  "Henrique Chagas". (23/09/06)

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Um apaixonado por livros desde criança, Henrique Chagas faz questão de ressaltar a importância da literatura na vida das pessoas. “Ler é agregar conhecimento. Dessa maneira você consegue compreender melhor o que acontece na sua vida, ao seu redor e na sociedade. Livros são ótimos instrumentos de reflexão”, conclui.

Com a proposta de estimular a leitura e saciar a fome de cultura, Henrique criou o sítio cultural Verdes Trigos ( www.verdestrigos.org ), que, desde 1998, oferece informações atualizadas sobre literatura e cultura em geral. “Nos verdejantes campos de trigo, o internauta tem acesso a resenhas de livros, críticas literárias e crônicas escritas por diversos autores, além de uma manancial de informações culturais”, explica Henrique, seu criador.

Henrique Chagas nasceu em Cruzália, no interior de São Paulo, e seu pai cultivava trigo. “Quando criança tinha o costume de ficar embaixo de árvores lendo livros que eram de meu pai. Gostava de ficar olhando para o horizonte e deixava minha imaginação caminhar. Olhava os trigais, com os seus cachos ainda verdes, formando verdadeiras ondas pelo vento”. Hoje, advogado em Presidente Prudente/SP, onde vive e trabalha, Henrique, como o menino de outrora, planta, cultiva e contempla “Verdes Trigos”, que lhe é uma fonte de cultura e conhecimento.


Henrique Chagas

Ademir: Quando e por que criou o site "Verdes Trigos"?

Henrique: “Verdes Trigos” foi criado em novembro de 1998, quando pretendia escrever um livro on line, em tempo real, uma experiência que, tempos depois, Mário Prata tentou realizar. O processo de criação é algo solitário, sem dar muita explicação, e o que eu pretendia fazer “on line” era escancarar o processo criativo. Gosto de estudar o processo criativo dos grandes autores, como Guimarães Rosa, Graciliano Ramos ou Machado de Assis, com todos os seus rabiscos, cortes, correções, trocas de títulos ou subtítulos. Pretendia também fazê-lo, mas em tempo real, onde os internautas poderiam acompanhar a criação e nela interferir através de comentários, críticas ou sugestões. Surgia, então, um embrião dos propagados blogs. Logo, no inicio, além de escrever o livro propriamente dito, comecei a comentar os livros e artigos que lia e que davam fundamentação ou serviam de inspiração ao livro. Muito interessante, todavia, o processo criativo ficou totalmente obsceno, escancarado. Preferi continuar o livro na solidão do quarto na sua penumbra. Entretanto, dei seguimento à publicação de resenhas e ensaios literários.

Ademir: Por que a escolha do nome "Verdes Trigos"?

Henrique: O nome “Verdes Trigos” surgiu a partir de várias idéias. Primeiro, decorre da minha ligação com o trigo. Desde criança sou fascinado pelo trigo. Lembro-me, quando criança, o que mais gostava era olhar os trigais, com os seus cachos ainda verdes, formando verdadeiras ondas pelo vento. Ficava horas a contemplar os verdes trigos balançando e as ondas formadas por suas espigas. Iam e viam, num balançar determinado pela própria natureza. Para o lugar onde nasci e cresci volto sempre que possível para recordar e para matar a enorme saudade de todos os sonhos que tive sob a sombra fresca das laranjeiras, mangueiras ou abacateiros. Mas, a maior saudade mesmo é aquela da contemplação ao balançar dos verdes trigos. Cada vez que os verdes trigos me vêm à lembrança, tenho a plena certeza de que os sonhos nunca envelhecem. Por conseguinte, também decorre da obra de Van Gogh, em especial, uma tela que representa o que sinto quando lembro dos verdes trigais da minha infância, que foi denominada “The Green Wheat Fields”. Fiz meus os verdes trigos do Van Gogh. E a idéia filosófica subjacente no sítio possui vínculo aos arquétipos transmitidos pela cultura judaico-cristã, onde a esperança e a fé num novo mundo encontram-se no trigo um arquétipo interessante e inspirador.

Ademir: Como funciona a divulgação dos livros em seu site?

Henrique: Mantenho aquela disposição inicial: comentar e divulgar livros que correspondam com a nossa filosofia de vida e com a nossa política editorial. Depois de 08 anos na rede, hoje tenho inúmeros amigos escritores ou jornalistas que resenham livros, encaminham crônicas, contos ou ensaios para publicação, poupando-nos de um árduo trabalho. Recebemos pelo correio livros tantos dos autores, editoras ou assessores de imprensa, que nos encaminham para serem divulgados no sítio. Todos os dias chegam livros. Claro que é excelente receber livros, o maior presente que eu poderia receber. Quero ler todos, mas é impossível, falta-me tempo. Faço o possível para publicar ao menos uma nota sobre o livro recebido no sítio. Quando a leitura flui prazerosamente, faço questão de publicar uma resenha, porque quero noticiar o prazer da boa leitura. Bons livros devem ser divulgados e a leitura incentivada sempre. Autores iniciantes, na maioria sem espaço na mídia e fora do eixo Rio/Sampa, encaminham seus livros não somente para serem divulgados, mas especialmente para serem lidos e ficam felizes ao saber que seu livro está sendo lido. E há surpresas especialíssimas, como a de ter recebido para avaliar, logo no início do projeto Verdes Trigos, o livro “À Sombra do Cipreste”, do então iniciante e hoje premiado Menalton Braff.

Ademir: Qual a receptividade e público alvo do Verdes Trigos?

Henrique: Não poderia ter sido melhor. Verdes Trigos mantêm uma audiência fantástica para um sitio cultural, uma audiência que cresce geometricamente a cada dia. Hoje chegamos à barreira das cinco mil visitas/dia. A partir de mecanismos de busca, os visitantes chegam ao nosso sítio em busca de informações literárias ou filosóficas. A partir de uma análise das palavras mais procuradas, descontadas as “julianas” e “danis”, nossos visitantes buscam informações sobre livros que geralmente não estão na mídia. A partir de análises do Google, posso afirmar que, pelas localidades de acesso (maioria da região sul e sudeste) e monitores utilizados (maioria com resolução superior a 1024 pixels), pelos feedbacks que temos através dos comentários e e-mails, atingimos um público altamente qualificado por curso superior e renda. Nosso público constitui-se de pessoas que apreciam boa leitura, bem como escritores, jornalistas e estudantes universitários.

Ademir: Como um ótimo leitor e escritor, o que você acha dos novos livros que estão sendo vendidos nas livrarias?

Henrique: Sou rato de livrarias e bibliotecas, entretanto, nas livrarias sinto certo desalento. Para comprar utilizo a internet, pois tenho a facilidade de buscar o que quero imediatamente, fazendo uma compra é dirigida. O desalento nas livrarias decorre de não encontrar o que desejo. Tudo o que está à mostra não me interessa ou não me agrada. Existe um enorme apelo de marketing para determinado livro, mas, geralmente, ele não vale o quanto pesa. Os bons livros estão escondidos nas prateleiras, é preciso garimpá-los. Mas sempre encontro algum, às vezes, até em bancas de promoção. Também freqüento sebos, onde também encontramos excelentes livros.

Ademir: Você acha que uma grande parte do público brasileiro é influenciado pela capa do livro na hora da venda, não dando muito valor para o conteúdo ou autor?

Henrique: A capa é um trabalho artístico, que faz parte do livro. Entretanto, desvinculou-se do livro, tornou-se peça de marketing, pois exerce enorme influencia na hora da compra. Eu mesmo já comprei por impulso apenas pela imagem da capa. Uma bela capa faz a venda, disso não tenho dúvidas. Mas boa parte do público, antes da compra, busca informações sobre o livro que pretende adquirir, seja na internet, nos jornais ou nas revistas. Verdes Trigos proporciona estas informações e influencia o leitor, por isso tomamos o cuidado de bem indicar um livro. Quando indicamos, colocamos um link na capa do livro direcionando para o site dos nossos parceiros (editoras ou Livraria Cultura), e temos um bom retorno, pois muitas compras são efetuadas a partir do nosso sítio.

Ademir: Com o crescimento da internet e da inclusão digital para os menos favorecidos, você acredita que os e-books "livros digitais", poderão um dia tomar o lugar dos livros tradicionais? Ou isso não acontecerá ou está muito longe de acontecer?

Henrique: Isso está longe de acontecer. Certa época cheguei a acreditar que o dia do e-book havia chegado, mas creio que vai demorar. Dizem que a mídia impressa tem seu dia de morte decretado para 2043, nessa ordem creio que a morte do livro acontecerá, se acontecer, em 2093. Uma profecia irresponsável, claro. Não creio que seja prazerosa a leitura numa tela de plasma ou LCD, eu costumo imprimir os arquivos que recebo, uma leitura de alto custo, pois é mais barato adquirir o livro na livraria do que imprimi-lo. No monitor apenas dou uma olhada. Prefiro mesmo é sentir o cheiro do livro. Livro tem cheiro e ele é imprescindível para o prazer da leitura. O cheiro do livro me influencia muito mais que a imagem de sua capa, gosto mesmo é do seu cheiro.

Ademir: Durante alguns anos, venho observando o trabalho de algumas editoras e, percebi que preferem publicar obras de pessoas já conhecidas na mídia. Isso não desfavorece o leitor com conteúdos menos didáticos?

Henrique: As grandes editoras não apostam nos talentos que surgem, querem apenas a picanha maturada. O problema não é publicar, o problema é conseguir colocar o livro nas prateleiras em Porto Alegre ou em Belém. O nó górdio está na distribuição do livro, e o novo autor não tem experiência e nem canais de distribuição do seu livro; mas se consegue algum espaço na mídia e na distribuição, isso facilita o seu ingresso no mundo editorial. Claro que o leitor fica desfavorecido em razão da falta da deficiência da distribuição. Existem livros fantásticos que não são distribuídos e não chegam ao leitor. Rosângela Vieira Rocha, Ronaldo Cagiano, Chico Lopes, Nilza Amaral são excelentes e fantásticos escritores, no entanto, o grande público não tem o privilegio de conhecer sua obra, pois são impedidos pela distribuição.

Ademir: O que é preciso para o brasileiro se interessar mais pela leitura no Brasil? Influencia da família e dos pais? Ajuda da mídia? Apoio do governo? Ou nada disso?

Henrique: É preciso, em primeiro lugar, facilitar o acesso ao livro. Ler é como coçar, é só começar. Apoiamos a campanha capitaneada por Luis Peazê pela tarifa livro, que busca baratear a tarifa de remessa de livros pelos Correios. A Lei do Livro estabelece que o livro brasileiro deva ter uma tarifa posta preferencial e reduzida. Está na lei, basta que os Correios cumpram a lei e criem a tarifa postal reduzida para o livro. Como recebo muitos livros, adotei uma política de doação destes livros às bibliotecas públicas ou comunitárias. Tem recebido pedidos de livros de bibliotecas localizadas em outras regiões do país, não posso encaminhá-los em razão do custo do frete. A tarifa livro facilitaria o acesso ao livro, vem também ao encontro do interesse das editoras e distribuidoras. Desconheço a resistência em cumprir a lei. Em segundo lugar, não nessa ordem, o exemplo dos pais e familiares é extremamente importante no fomento ao hábito da leitura. Leio muito porque aprendi com meu pai, que lia desde jornal velho à bula de remédio. Em terceiro lugar, falta incentivo do governo e da mídia ao fomento da leitura. As poucas iniciativas, como a do nosso sitio Verdes Trigos, não possuem incentivo governamental. Entretanto, também fazemos um trabalho voluntário de cidadania, pois, sem incentivo público, ajudamos bibliotecas públicas ou comunitárias com a doação dos livros que recebemos dos nossos parceiros escritores ou editoras.

Ademir: Qual o melhor caminho para um jovem autor se ingressar no mundo literário?

Henrique: Creio que o melhor caminho para o jovem autor é criar o seu próprio caminho. Não existe a receita do bolo. A escritora Jeanette Rozsas tem uma trajetória interessante. Começou estabelecendo o grupo Contares, um grupo de amigas ligadas pelo interesse literário. A experiência frutificou vários livros, alguns deles premiados em concursos, também outra trilha a ser seguida. Adentra-se no mundo literário lendo e escrevendo. É preciso ler muito e escrever. Publicar é uma conseqüência natural da escrita e cada um descobre a sua trilha. Gosto muito daqueles que publicam seus textos nos blogs, leitura de fácil acesso. Até Paulo Coelho aderiu ao blog e antes mesmo de publicar seu novo livro, publicou parte dele num blog. Escrevi ao mago que se tratava de uma peça de marketing para vender mais ainda, ele respondeu que queria satisfazer um direito do leitor, que é conhecer o que está comprando. Mas quem compra Paulo Coelho já sabe o que está comprando, nem precisa ver antes.

Ademir: O que você acha dos Agentes Literários? É realmente preciso gastar muito para se conseguir publicar um livro em uma editora?

Henrique: Creio que ainda vá precisar de um deles. É o profissional do mercado editorial que presta serviços de suporte jurídico e administrativo para escritores, que cuida da negociação de cessões, contratos e administração dos seus direitos autorais. Não basta escrever e colocar o seu produto em circulação, é preciso cuidar dele e proteger os seus direitos. Como advogado, eu diria que esta proteção aos direitos autorais e tão ou mais importantes do que viabilizar a publicação e distribuição do livro. O Agente literário não será apenas o seu “empresário” e muito mais que isso, é o agente de proteção aos seus direitos autorais, além, é claro de prospectar viabilidades de publicação de suas obras. Marisa Moura e Alessandra Pires são exemplos de agentes literários bem sucedidos e fantásticos.

Ademir: Criar um livro independente e bancar toda a publicação e distribuição, é um bom caminho? É fácil de se conseguir o reconhecimento do público e da mídia?

Henrique: É um começo. Se tiver sucesso nesta empreitada, será o dono de sua própria editora, nada mais fantástico, pois você mesmo explora os seus direitos autorais.

Ademir: Caso os leitores queiram entrar em contato com você, como deverão proceder?

Henrique: Sou figura fácil na internet, tenho site, e-mail, orkut e etc. Os leitores poderão encontrar-me no sítio VerdesTrigos.org, no link www.verdestrigos.org ou através do e-mail henrique@verdestrigos.org  ou hcha@terra.com.br .

Ademir: Mais uma vez, agradeço pela entrevista. Desejo muito sucesso para o site "Verdes Trigos" e muitas felicidades para você.

Henrique: Também agradeço a você, Ademir, a oportunidade e o prazer de poder falar sobre “Verdes Trigos” e agora também estar no CRANIK.

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*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Entrevistador e Administrador do http://ww.cranik.com : Ademir Pascale Cardoso (conheça o administrador do cranik - Clique Aqui)
Entrevistado: Henrique Chagas.
E nos informar pelo e-mail: webmaster@cranik.com 

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