Entrevista com o quadrinhista Octavio Cariello

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o quadrinhista Octavio Cariello.
 (12/02/08)

DVD'S - CD'S - GAMES ONLINE - PRESENTES - CAMISETAS DE FILMES - LIVROS


 
Octavio Cariello - Foto Divulgação

Mini-biografia: Nasci em recife, a capital de pernambuco, na região nordeste do brasil, no dia 25 de fevereiro de 1963. meu pai, octavio sr, era um pé-de-valsa e tinha algum pendor para a música. minha mãe, célia, tocava piano, desenhava bem e vivia arranjando novas maneiras de deixar a casa mais bonita (hoje em dia, ela pinta quadros abstratos). minha família materna sempre esteve envolvida com arte; todos cantam bem e tocam algum instrumento. desde pequenos, meu irmão caçula sergio (www.sergiocariello.com), e eu passávamos horas a fio enchendo cadernos de desenhos com garatujas que recebiam, sem merecer, os mais rasgados elogios de nossos pais. com toda essa atmosfera artística, não é de espantar que terminássemos dedicando nossos maiores esforços em conseguir a melhor maneira de nos expressarmos com arte. as artes gráficas, no entanto, venceram a batalha pelas atenções dos dois garotos curiosos e inquietos.

nossas carreiras como desenhistas iniciaram-se muito cedo. sergio foi mais tenaz e obstinado e emigrou para os eua quando tinha 20 anos; hoje, mora na florida com luzia, também brasileira, e é um dos mais respeitados desenhistas do mercado americano de comics.

eu, resolvi adiar minha entrada definitiva no mundo gráfico e fui freqüentar a faculdade de medicina, na ufpe (universidade federal de pernambuco). passei cinco anos estudando os tecidos, os processos de funcionamento do corpo, as patologias que o afligiam, os remédios que poderiam livrá-lo das aflições e toda espécie de manobra e parafernália usada nos casos em que a farmacologia não era suficiente. passei um ano dando plantão no pronto-socorro de olinda e resolvi abandonar a faculdade antes de me aprisionar de vez com o titulo de doutor. prestei o vestibular para arquitetura e cursei dois anos e meio no centro de artes da mesma ufpe. nessa época, me envolvi com teatro e descobri que encarnar personagens era mais interessante do que tentar decobrir novas maneiras de distribuir os mesmos cômodos de casas e edifícios; uma busca incessante de fazer o mesmo com cara diferente.


Ilustração de Octavio Cariello ©

mudei para são paulo, em 1986, já interessado em investir na carreira de quadrinhista e ilustrador. bati com a cara na porta de muitos editores até que conheci gualberto costa (fazia uma dobradinha com josé alberto lovetro - o jal); ele foi o melhor lobista que eu poderia arranjar. depois que viu meu portifólio entupido de histórias inéditas e umas tantas outras que eu publicara em recife, no jornal o rei da notícia, de cleriston andrade, gualberto resolveu iniciar uma campanha que resultou num prêmio de melhor desenhista brasileiro no hq-mix de 1992, tendo apenas publicado uma hq em território brasileiro. com jal, participei de projetos audaciosos como sport gang e o amigo da onça; ele escrevia e eu desenhava. a dupla continuou existindo até 1989, quando fui convidado pelo estúdio art&comics a desenhar trancers para a extinta editora americana malibu. passei 10 anos trabalhando para editoras americanas: malibu, innovation, caliber, marvel e dc. desta época, o trabalho que me deixou mais conhecido foi a adaptação de a rainha dos condenados, escrita por faye perozich, sobre o best-seller de anne rice.

em 1997, juntei-me a um grupo de profissionais que fundou a fabrica de quadrinhos. jotapê martins saiu da fábrica em dezembro de 1988 e roger cruz (www.rogercruz.com.br) deixou a sociedade em 2000. o tempo passou e a fábrica chegou em 2002 dividida; dois sócios, eduardo schaal e rogério vilela, ficaram com o estúdio de arte e com o nome (faça uma visita ao site da fábrica). marcelo campos e eu ficamos com a escola e mudamos seu nome para quanta academia de artes. em agosto de 2005, afastei-me da sociedade, mas continuo dando aulas e participando dos projetos de quadrinhos com a marca da academia., com fati campos e cristina fernandes como novas sócias.

ando me dedicando a escrever histórias para serem publicadas como álbuns de quadrinhos e literatura metida a sério - hoje, gasto meu tempo criando personagens e universos (uma dessas ironias do destino: arquitetando caras diferentes para a mesma coisa), cuidando para que o leitor não se perca nos labirintos das historias que ainda pretendo contar.


Ilustração de Octavio Cariello ©

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início de sua carreira como desenhista?

Octavio Cariello: Desenhar é uma atividade constante, desde os dois anos de idade, porém, profissionalmente, comecei em publicações esparsas, aqui e acolá, em fanzines, jornais locais e edições especiais de revistas com baixa tiragem, em Recife, minha cidade natal. Ao me mudar para São Paulo, em 1987, percorri a "via crucis" tradicional, arrastando pastas repletas de originais, batendo em portas e tendo-as fechadas contra o nariz, ouvindo desculpas incongruentes e mentiras deslavadas a explicar as negativas constantes. A primeira encomenda para uma revista local resultou em decepção: o editor era um salafrário mau-caráter que não me pagou pelo trabalho publicado. Mas foi engraçado, mesmo à época, como tudo aconteceu.

Ademir Pascale: Escritores e desenhistas geralmente são influenciados por outros escritores e desenhistas. E você, teve influências de outros desenhistas?

Octavio Cariello: Tive e continuo tendo. Muitos. A lista seria interminável, mas arrisco apontar alguns: Albert Uderzo, Flavio Colin, Mike Mignola, Alex Toth, John Romita, Nico Rosso, Benício, Hergé, Käthe Kolvitz, Laerte Coutinho, Dave McKean, Jim Burns, R.B. Fuller, Chester Gould, Juarez Machado, Miguelanxo Prado, Jon Muth, Esteban Maroto, José Luís Garcia Lópes, Jim Aparo, Steve Ditko, Negreiros, Millõr Fernandes, Andrè Franquin, Moebius, Al Capp, Henfil, Joe Kubert, Hal Foster, Winsor McCay, Marcelo Brücke Caribé, Al Williamson, Carlos Nine, Hugo Pratt... E vai por aí. Não vou sequer começar uma lista com as influências literárias, não conseguiria parar tão cedo. Mas não resisto em citar quatro dos meus escritores preferidos: Machado de Assis, Umberto Eco, Garcia Márquez e Patrick Süskind.


Ilustração de Octavio Cariello ©

Ademir Pascale: fale um pouco sobre o site: www.octaviocariello.com .

Octavio Cariello: É uma vitrine capenga de algumas de minhas atividades artísticas e se mantém mais por causa do blog. O site só existe por insistência de um ex-aluno que suou meu design original e montou as páginas. Ainda tem muita coisa a ser corrigida (só Deus sabe se as correções vão acontecer...) e as galerias bem que mereciam um "update".

Ademir Pascale: Como foi a adaptação de a rainha dos condenados para os quadrinhos?

Octavio Cariello: Fazendo uma análise depois de tantos anos, foi bem divertido. O processo de escolha do substituto de Daerick Gross (o ilustrador que tinha feito a adaptação de "O Vampiro Lestat") foi supervisionado por Anne Rice; ela deu a palavra final sobre quem assumiria o título. Fiz umas duas páginas pintadas de teste e fiquei surpreso em ter sido escolhido. Li os três livros da série publicados até então (Entrevista, Lestat, Rainha) e outras obras da mesma autora para me familiarizar com o universo que ela criara. Empreguei muitas técnicas diferentes e experimentei muitas maneiras narrativas distintas. Foi um fantástico processo de aprendizado.

Ademir Pascale: Existe algum longa-metragem que você gostaria de adaptar para os quadrinhos? Se sim, qual?

Octavio Cariello: Acho a idéia de adaptar quadrinhos para o cinema um desafio delicioso.  Porém não gostaria de me envolver mais uma vez com o processo contrário, adaptação de cinema para quadrinhos. Já participei de adaptações de obras literárias (A Rainha dos Condenados, Lovecraft) e gostei bastante das experiências, porém, o processo com cinema não foi tão agradável; minhas primeiras obras para o mercado americano de comics foi a adaptação de dois filmes de Corman (um dos barões dos filmes B), Trancers e Trancers 2, para a Adventure, um selo da extinta Malibu. À exceções raríssimas ("Drácula" do Mike Mignola é primorosa), somam-se obras pífias de gosto duvidoso que tentam transformar cinema em gibi, na tentativa quase desesperada de amealhar níqueis dos desavisados. A idéia de reproduzir filmes ou séries de TV, tendo que copiar seqüências inteiras das capturas de tela me dá urticária.

Ademir Pascale: Você já trabalhou em editoras americanas, como: Malibu, Innovation, Caliber, Marvel e DC. Minha pergunta é: Quais as diferenças entre trabalhar para uma editora americana e brasileira?

Octavio Cariello: Aqui, recebe-se em reais, lá, em dólares; aqui, tudo se negocia em português, lá, em inglês. Fora isso, diferenças, existem poucas; aqui, como lá, há pessoas boas, grandes profissionais e muita, mas muita, gente desorganizada, incompetente e alguns poucos, graças aos céus, gatos pingados dados a falcatruas e atos desonestos.


Ilustração de Octavio Cariello ©

Ademir Pascale: Como foi a sua participação no Livro Negro dos Vampiros da editora Andross?

Octavio Cariello: Fui convidado por Claudio Brites, o organizador da coletânea. Quase fiquei de fora, mas fui convencido a participar por ele e pelo Kizzy Isatis. Foi divertido.

Ademir Pascale: Existe algum trabalho que você elaborou durante a sua carreira que você gostaria de mencionar?

Octavio Cariello: Já participei de projetos em quase todas as possíveis manifestações artísticas. Escrevi, produzi, dirigi, atuei, esculpi, ilustrei, desenhei, compus, cantei, dancei. Pintei o sete, enfim, porém nenhuma obra me emociona como a escola de artes que vem formando tanta gente há uma década. A Quanta Academia de Artes continua sendo minha mais importante realização.

Ademir Pascale: Como os interessados em ilustrações e demais serviços deverão proceder?

Octavio Cariello: Para me contratar? Como professor, é só procurar a Quanta. Como ilustrador e escritor, é só mandar um e-mail pro cariello2@uol.com.br .

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado: Octavio Cariello.
E nos informar pelo e-mail: ademir@cranik.com  

Indique esta entrevista para um amigo! Clique Aqui      

 


© Cranik - 2003/2008