Entrevista com Raphael Draccon Entrevista com o escritor Raphael Draccon

O Editor do Portal Cranik "Ademir Pascale"  entrevista o escritor Raphael Draccon.
 (27/02/08)

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 Raphael Draccon
Raphael Draccon - Foto Divulgação

ENTREVISTA:

Ademir Pascale: Como foi o início da sua carreira como escritor?

Raphael Draccon: É interessante essa questão. Existe uma corrente que defende que a geração atual lê cada vez menos, e que está cada vez mais difícil para a literatura concorrer com outras mídias, como cinema, videogames, música e televisão. Eu vejo as coisas de forma diferente. Eu me interessei por literatura e fantasia porque fui uma criança que assistiu a “Caverna do Dragão”, e se apaixonou por “Final Fantasy”. Falo até bastante sobre essa fase no www.raphaeldraccon.com. Logo, a partir dos 12 anos comecei a ler qualquer coisa que me caísse em mãos, principalmente histórias relacionadas à fantasia ou aventura que foram das histórias de Conan, a contos de fadas clássicos e fábulas de Monteiro Lobato.

Agora, o que me fez decidir que, ou seria um escritor profissional ou um ser humano infeliz o resto da vida, foi ler na adolescência: “Capitães de Areia”, de Jorge Amado. Particularmente, é o melhor livro que já li em toda essa vida. E mesmo que um dia descubra outro melhor, ainda assim irei mentir sem culpa nenhuma, e continuarei afirmando que é o melhor livro do mundo. Devo muito a essa obra. Ela é espetacular.

Ademir Pascale: Poderia falar um pouco sobre a sua obra “Dragões de Éter – Caçadores de Bruxas”?

Raphael Draccon: “Dragões de Éter” é uma homenagem a tudo o que me levou à literatura. A idéia inicial era levar para a literatura um romance que resgatasse o espírito de um “Caverna do Dragão”: uma história sombria, que suavizasse esse conteúdo denso e pesado com personagens jovens e uma visão juvenil e bem-humorada da vida.

Logo, o Livro 1 não se trata de uma história de homens caçando bruxas que babam sangue. Na verdade, a história é sobre sete jovens, em diferentes estágios da transição da adolescência para a vida adulta, amadurecendo em meio a uma inesperada e sinistra guerra de magia e aço que acelera essa transição, e demonstra como a dor purifica mais rápido a alma humana. É sobre isso e sobre homens caçando bruxas que babam sangue.

É uma saga muito forte; me arrepio só de pensar nas etapas que os personagens têm de percorrer, e no que eles vão se tornar. É poético. Muitas vezes triste, mas existe beleza também na dor.

A dor purifica.

Ademir Pascale: Como está sendo a receptividade dos leitores com esta obra?

Raphael Draccon: Eles são tudo para o universo do “Dragões” viver. A originalidade da obra está na questão de até mesmo os personagens saberem disso. “Dragões de Éter” entrou em um processo de propaganda boca a boca impressionante, tanto que nem mesmo a própria editora acreditou que seria tão bem sucedido em tão pouco tempo. A primeira edição está quase no fim, e as mensagens que chegam a nós já são além de gratificantes. No blog Dragões & Éter (www.raphaeldraccon.com/blog) cheguei a colocar fotos de camisas sorteadas entre os membros de uma das comunidades criadas para o livro (www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40268636). Sempre que dá, sorteamos brindes ou coisas do tipo por lá.

Há os leitores que choram com o final do livro. Há as leitoras da Wicca, que elogiam uma “iniciação” bem-humorada na história. Há os que xingam (com razão) o pobre e bem-humorado narrador da história, que de vez em quando esquece o que estava falando, ou resolve parar o tempo e fazer o leitor caminhar pelo cenário.

E existem várias e várias mensagens querendo ver a história do livro na tela grande.

Não há preço que pague isso.

Ademir Pascale: O trajeto até a publicação da sua primeira obra foi fácil? Existiram obstáculos?

Raphael Draccon: Nunca é. “Dragões de Éter” foi recusado em todas as grandes editoras, menos na Planeta. Entretanto, não existe “sorte grande” nesse mercado, como quem está de fora pode vir a acreditar. Todos os escritores que já chegaram a uma grande editora têm por trás uma história pessoal que as pessoas deveriam parar para escutar. Não necessariamente porque deveriam tentar a mesma “sorte”, mas porque se exige um gasto de energia tão grande no processo, que a pessoa sai fortalecida. E melhor.

Não acho que o mercado de fantasia hoje esteja mais aberto para o escritor nacional do que em qualquer outra época. Ele continua difícil como sempre foi. Apenas hoje as editoras sabem que ele não pode ser ignorado, o que não quer dizer que irão abrir suas portas por causa disso.

Para eu conseguir minha chance, por exemplo, foi preciso um longo e arriscado plano, que tinha tudo para dar errado. A questão é que não existem muitos escritores nacionais que admitam querer escrever para um grande público. Como já disse um editor: a maioria quer ser Machado de Assis ou Mário Prata. E esses caras são únicos.

O fato é que uma obra pode ter conteúdo, ser bem escrita e ser popular; acreditar no contrário é elitizar uma literatura que já é segregada.

Eu tive uma chance, e sabia que seria minha única chance. Ainda assim foi difícil. A Planeta não tem tradição no setor de fantasia, e se dependesse da alta cúpula da editora, o livro não tinha saído. É que eu tive um editor de visão que não havia conseguido parar de virar as páginas do original, e sabia que “Dragões de Éter” podia competir com os atuais concorrentes estrangeiros. Além disso, ele me deu regalias que autores iniciantes não costumam ter: eu dei o aval final para a seleção do capista, Renato Alarcão, que tem um trabalho espetacular, e fui consultado desde a diagramação até a fonte escolhida.

Houve problemas nas etapas da preparação de texto para revisão, mas que serão resolvidos. O romance foi lançado sem propaganda alguma, ou sequer uma noite de lançamento. Sendo exibido em uma ilha de livros, apenas no estande da Planeta, durante a Bienal de 2007, no Rio de Janeiro, foram vendidos 200 exemplares. Na época de Natal, passou dos mil.

Tudo por causa dos leitores. Bendito é o escritor que ama um grande público.

Ademir Pascale: Você também é professor de artes marciais? Como você concilia a vida de escritor e professor?

Raphael Draccon: Eu era. Escrevi “Dragões de Éter” estudando cinema de manhã, dormindo de tarde, dando aulas à noite, e escrevendo de madrugada.

Comecei nas artes marciais aos 06 anos. Tornei-me instrutor de Taekwondo aos 12. Assumi turmas a partir dos 18. Entreguei a academia a outro faixa-preta aos 25. Não encarava as aulas de artes marciais, porém, como uma profissão. Eram mais um débito; uma forma de devolver à arte marcial tudo o que ela havia me dado. Os indianos chamariam isso de puja.

Resolvi que havia cumprido minha missão quando não conseguia pensar em mais nada que não fosse escrever. Não tinha assinado nada com ninguém ainda, apenas tinha a certeza dentro de mim de que era a hora, e que alguma coisa tinha de acontecer. Meses depois, eu era o mais jovem contratado da Planeta do Brasil.

Os sinais nos são mandados o tempo inteiro. Mas admito que há de se ter coragem para escutá-los.

Ademir Pascale: Você inclui sua filosofia de vida em seus textos?

Raphael Draccon: Não teria como contar uma história sem ser assim. Se você perguntar a um teórico de literatura o que alguém mais precisa para se tornar um escritor, ele irá dizer: ler muito. E ele estará certo, entretanto, esse é o segundo ponto mais importante. O primeiro é: ter uma história, e uma filosofia de vida, que valha à pena ser contada. Seja na face do guerreiro ou na face do monstro, um escritor está sempre contando sua própria história, subdividida em personalidades diversas. Quando um personagem age de acordo com a convicção do escritor, ele o faz para afirmá-la. Quando o personagem age por oposição à convicção do escritor, ele o faz para criticá-la com aquela exposição.

Três exemplos rápidos:

“Dragões de Éter” é uma saga de fantasia, mas acima de tudo, é uma obra espiritual. Os personagens são levados a tomar decisões que tocam em questões profundas da alma humana, e muitas vezes esse toque queima. Não à toa, a escritora Helena Gomes disse que “‘Dragões de Éter’ é uma obra escrita com o coração”.

Durante a faculdade de cinema, recebi uma Menção Honrosa da American Screenwriter Association, pelo meu primeiro roteiro de longa-metragem, escrito em co-parceira, o drama sobrenatural: In Your Hands. É uma história espiritual forte, sobre um menino sensitivo que descobre uma cura para o câncer.

O website Primeiro Dan www.primeirodan.hpg.com.br, criado para dissecar um pouco da filosofia por detrás das artes marciais, foi lido por mais de quinze mil praticantes, e me fez receber centenas de relatos de pessoas, que vão de brasileiros a portugueses, e que resolveram retornar às artes marciais depois de ler os textos propostos no portal.

A questão é que estamos em um planeta de convivência cada vez mais difícil. Se não escrevermos algo para acrescentar ao espírito humano, não sei por que alguém perderia o pouco tempo que tem para ler ou assistir o que tenhamos a contar.

Ademir Pascale: Como será a sua participação na nova antologia “Anno Domini” da editora Andross?

Raphael Draccon: O projeto me foi uma grata surpresa. A autora Helena Gomes me fez um convite muito simpático, e acabei me tornando um dos “convidados de honra” do projeto.

Para aqueles que ainda não sabem, “Anno Domini” é uma antologia de contos organizados pelos escritores Cláudio Brites e Helena Gomes, que será a grande estrela da editora Andross esse ano. Nele existirão contos envolvendo mundos medievais históricos e mundos fantásticos, reunindo trabalhos de autores iniciantes, ainda na busca pela primeira publicação, e outros já um pouco mais veteranos no mercado. Quem quiser tentar uma vaga, aliás, é só ler o regulamento e enviar seu conto para a editora.

Escrevi um conto com elementos de terror, no cenário da saga “Dragões de Éter”, que tem uma ligação com o Livro 3 da série. É um bom conto de terror independente, mas para quem vier a acompanhar a saga contada no universo dos romances, ele será também uma curiosidade interessantíssima.

Ademir Pascale: Existem novos projetos em pauta? Se sim, quais?

Raphael Draccon: Diversos. Falta pouco para entregar o Livro 2: “Dragões de Éter: Corações de Neve”, que tem mesmo de ser entregue. Tem um universo de romances sobrenaturais que será iniciado. No cinema adaptei o romance do mega-bestseller Augusto Cury: “O Futuro da Humanidade”, que foi relançado pela editora Sextante com uma capa mais sóbria, e voltou à lista dos mais vendidos da revista Época desse mês. Estou produzindo para a televisão uma série de animação, o “O Último Ninja”, sobre um pequeno ninja em Rio City, pela Bravo Studio. Fui convidado para ser colunista do portal Scarium, função que pretendo me dedicar mensalmente em breve, desvendando segredos e chaves de romances e roteiros de fantasia, terror e sobrenatural. Além disso, pretendo filmar esse ano em 16 mm ou HD algumas brechas que ficaram entre o Livro 1 e 2 do “Dragões de Éter”. Depois jogo no youtube o resultado, onde já existe o trailer do livro (www.youtube.com/watch?v=CaxSLS56fN0).

Vai ser um barato!

Ademir Pascale: Agradeço de coração a gentileza da entrevista. Desejo-lhe muito sucesso. Um forte abraço.

Raphael Draccon: O prazer é sempre nosso. Parabéns pelo projeto pessoal do “Cinema para todos”, e por todo o trabalho da equipe do Cranik.

Sonhem conosco.

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Raphael Draccon
Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas  - Raphael Draccon

Entrevista com Raphael Draccon

© Cranik

*Você poderá adicionar essa entrevista em seu site, desde que insira os devidos créditos: Editor e Administrador do http://www.cranik.com : Ademir Pascale - ademir@cranik.com
Entrevistado: Raphael Draccon.
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